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Foto do escritorAires Gouveia

#0 - Anatomia de um Sticker: "O to.colante de guerrilha"


algures em Bologna

"Now we're the baddest of the bad, the coolest of the cool I'm DMC, I rock and roll. I'm DJ Run, I rock and rule It's not a Trick or Treat and it's not a April Fool It's all brand new, never ever old school




Quando em 1981, Joseph Simmons, Darryl McDaniels e Jason Mizell formaram o colectivo RUN DMC, longe estariam de pensar na repercussão e na influência que grupo teria anos mais tarde, não só na emergente cena musical de hip hop, mas mesmo em termos de cultura popular.

No entanto, as rimas e as letras, como este breve trecho de King of Rock (de 84) já indiciavam um desejo de agitar águas e deixar uma marca vincada.

E se a nível musical a sua influência foi bem patente, sendo o primeiro grupo de hip-hop a ter um disco de platina (com o já citado King of Rock) ou sendo os primeiros dentro deste género musical a serem nomeados para um Grammy (algo tão banal hoje em dia), em termos de cultural popular, em especial a visual, a sua influência foi bem sentida, definindo em boa parte os cânones visuais e estéticos que seriam seguidos por muitos outros grupos de hip hop no futuro.


O mesmo aconteceu com o seu símbolo, um dos logos musicais mais poderosos e marcantes, que em parte reflectia a posição e o espírito irreverente da banda. Erradamente atribuído ao graffiter e artista de rua Cey Adams, a autoria deste símbolo deve-se a Stephanie Nash, uma designer na editora Island Records, que em 86 foi mandatada para desenhar um logo à medida da imagem e da postura da banda.


Aparecendo pela primeira vez num vídeo de "My Adidas" música do álbum "Raising Hell" que os atirou para o estrelato mainstream (e na boleia tornaram-se a primeira banda a figurar numas Adidas que se tornaram objectos de culto), o logo e usando as palavras da criadora, foi criado "(...) ouvindo [a música] e pensando como era visualmente tipográfico. O rap foi muito inspirador para mim naquela época: palavras grandes, significativas e contundentes, usadas com tal poder como eu não ouvira antes."


De facto ao olharmos ao logo, as grandes letras brancas sobre um fundo preto ladeada por duas barras rectangulares vermelhas causam impacto. Sobre a opção tipográfica escolhida, Nash discorre o seguinte: "na época, tínhamos um número limitado de fontes disponíveis, e a Franklin Gothic era 'dura', directa e franca sem ser antiquada ou modesta. É uma fonte boa, sólida e ao mesmo tempo non-sense. O nome Run-DMC ajudou ao permitir dois conjuntos de três letras."


Depois fez-se história.

O logo massificou-se rapidamente (no entanto, a própria Adidas demorou algum tempo a ver o potencial do mesmo e a aceitar incorporar um símbolo de uma cultura emergente que desconhecia) e com o tempo passou a ser copiado e usando com muitas outras siglas. É reconhecido como um dos mais marcantes logótipos musicais da história.


Conforme já referi anteriormente (num "Conversas à Benfica" em que tive a honra de ser convidado), a minha produção de autocolantes decorreu de um processo pessoal criativo que na altura (talvez fruto dos tempos actuais) migrou de uma vertente mais escrita (daí o meu poder de síntese ter ido às urtigas e ser quase nulo) para uma fase mais imagética, que começou com fotografia mas rapidamente migrou para experiências com tintas, em especial fazendo "stenciling". Daí que fosse natural andar mais atento a logos e imagens como o logótipo acima descrito.

E fruto de viagens e vendo esse mesmo logo ser adaptado aos mais variados contextos e imagens, querendo trazer um outro tipo de linguagem visual para o universo de material impresso e feito pelo Benfica (e também de maneira a deixar de ser uma mero "cliente passivo" e passar a ser um "adepto proactivo" dando a minha contribuição para difusão de Mística - neste caso em modo autocolante), rapidamente imaginei uma adaptação daquele logo marcante.


Em meados de 2015, era criado o primeiro to.colante (para quem não conhece o que é - ir ao campo outros projectos e perceber do que falo), aquele pelo qual terei sempre um carinho especial.


Usando uma base muito simétrica, o desafio era criar harmonia no desenho tendo em conta que decidi usar três letras na primeira linha (SLB) e quatro números na segunda linha (1904).

Desenhei o mesmo de raiz, usando o Adobe Photoshop (comecei por usar um "freeware" chamado GIMP mas rapidamente mudei para os aplicativos da Adobe - neste caso, o Illustrator até é o mais indicado) e após alguma pesquisa (a mesma que usei para este já longo artigo - outra vez a questão da falta de poder de síntese, tenho mesmo de trabalhar neste aspecto), e sempre numa lógica de tentativa e erro, cheguei a uma forma que me deixou satisfeito. Tal como o irmão mais velho (e original), este SLB 1904 em estilo RUN DMC é directo e causa o devido impacto.


Após consultar alguma malta próxima e com bom feedback e com o aproximar de uma importante saída europeia (ida a Munique), em Março de 2016 avancei para a produção do primeiro lote em papel adesivo estilo Panini - 1000 unidades em tamanho 5.5 cm x 5.5. cm, que depois de contadas eram na realidade 1600 e tal.


Tendo em conta que normalmente não faço reedições de desenhos (pelo menos para já), este desenho acaba por ser a excepção que confirma a regra e desde aí já foram produzidos mais 1000 (Outubro de 2017) e outros 1000 (um depois em Outubro de 2018), estes últimos sem o rebordo branco.

Paralelamente, e tendo em conta que este é o meu to.colante de "guerrilha", fiz edições em papel vinil (mais resistente às condições atmosféricas, porém mais fácil de descolar) num outro formato em 10 cm x 10 cm

- 1000 (em Fevereiro de 2017) e outros 500 (em Outubro 2017).


Recentemente e tendo esgotado o stock de stickers em formato grande em vinil, fiz um novo lote de 1000 em 10.5 cm x 10.5 cm - numa nova gráfica (a terceira com este desenho) daí novo tamanho, sendo que não são de descartar novas experiências e tamanhos.


A finalizar e em jeito de conselho a quem quer se iniciar neste tipo de produção (quantos mais a fazerem melhor), alguma pesquisa é sempre aconselhável.

Tendo em conta que não tenho formação na área (longe disso), um dos recursos que usei muito no início foi a consulta de "tutoriais" (existem aos pontapés na rede consoante o programa que queiram usar) assim como respeitar ou ter em conta os pormenores de espaçamento e (muito importante em especial neste desenho) o tipo de tipografia usada..

Depois é tudo uma questão de tentativa e erro, de ter em atenção ao que é pedido no sítio aonde vão fazer a impressão - lembrem-se que o sistema de cores dos nossos ecrãs (RGB) é diferente do sistema de cores usados em impressões profissionais (CMYK), ter noção do que é o Bleed e a margem necessária (para não terem surpresas), ter uma noção da densidade em DPI's necessária (normalmente 300 - uma simples imagem jpg descarregada da net terá apenas 72), enfim muitas outras coisas.


Garanto-vos que escrito parece mais difícil do que é.

Se eu consegui, vocês também conseguirão fazer os vossos.

Retorno aos versos finais de Run DMC - King of Rock:


"To be MC's, we got what it takes Let the poppers pop and the breakers break We're cool cool cats, it's like that That's the way it is, so stay the hell back We're causin' hard times, for sucker MC's Cause they don't make no songs like these Period!"


p.s. Ficou um sticker do caraças, não ficou? ;)

3 comentários

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3 Comments


Nuno Picado
Nuno Picado
Mar 21, 2019

Ficou mesmo brutal! Pedem-se mais reedições ;)

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Que maravilha António Colante

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Eu só posso aprovar este texto que demonstra aquilo que representas neste micro mundo do stickermania slb : es o maior impulsionador desta arte de criar « colantes » do Benfica. Muitos estão a seguir os teus passos mas continuarás a ser a referência n1 na mestria e qualidade da obra final.

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⋆ E Pluribus Unum ⋆

MCMIV

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