o verde que entra por esta porta é a lembrança de que não acaba o que deixamos à entrada. os ténis enlameados, o chapéu de chuva velho, a chave derrotada, são tudo marcas deste entremundo novo. as intermitências da vida são pintalgadas de chamadas, vídeos e filmes que viram séries. o tempo não passa e o mundo esquece que as pandemias vão e voltam, mas a memória resiste. da rádio à tv, das videocassetes aos dvd, tudo se tornou um cardápio feito perigosamente à nossa medida. somos ditadores de sofá, cheios de razão e razões para criticarmos tudo. rimo-nos dos muros de livros dos outros e não se percebe que eles contam mais histórias do que todos os ecrãs de televisão, uns meros filhos ilegítimos da black trinitron. se nos livros cá de casa encontro o conforto das viagens que ganham pó na to do list, nas conversas noctívagas do #benficadequarentena descubro as raízes de ser Benfica. todas as noites recebo em casa as personagens principais das histórias que os nossos avôs ensinavam, que os pais repetiam e que nós vivemos no estádio que já é nosso. sorrio. amo a história do Benfica, e amo a nossa história, aquela que contamos , relembramos e que acrescentamos o olhar que é tão nosso. a não maldição de guttmann, o brinco do baptista, o campo do cartaxo, as reviengas no 3-6, o belga que voa na baliza, as finais perdidas, ou o 10-0, são histórias individuais de uma memória coletiva, é isso que faz "de muitos, um" a nossa vida. hoje a minha porta está fechada, o meu estádio encerrado, os meus jogadores ausentes e os meus dias já foram mais luminosos. a ausência custa, a saudade dói, mas sei que há tempo, que agora é hora de outras lutas, de estarmos, protegermos e amarmos os que são mais nossos, e sei também que voltaremos mais fortes, como pessoas, como comunidade, como Benfica.
abraço forte (e lavem as mãos)
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