▶ Texto enviado pelo benfiquista Bernardo Quialheiro
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Mais um jogo. Mais uma exibição que em nada se coaduna com a história do Benfica. Mais um capítulo de um livro que parece escrito a lápis fraco, pronto a ser apagado pela primeira brisa de contestação. O problema? A brisa não vem. O vento não sopra. O estádio está cheio, as bancadas vibram, mas há um silêncio ensurdecedor onde devia haver indignação. E eu? Eu sinto-me sozinho. Sozinho como um colete amarelo no meio da autoestrada, braços erguidos, a gritar para que alguém acorde antes que o impacto seja fatal.
Até quando? Até quando vamos continuar a fingir que isto é normal? Que este Benfica é o Benfica? Há um conformismo que me assusta, uma aceitação do medíocre que me corrói. Há tempos, as derrotas eram murros no estômago. Agora, são empurrões ligeiros, facilmente absorvidos pela almofada do “não há alternativas”.
O Benfica de Eusébio, de Coluna, de Humberto Coelho, de Simões, de Chalana, de José Águas… Onde está? Onde está a chama imensa? Transformou-se em brasas mornas, alimentadas por discursos vazios e desculpas esfarrapadas. “Foi azar”, “o relvado não ajudou”, “o árbitro isto, o árbitro aquilo”. E o mais grave? Os adeptos engolem. Engolem como se fosse normal o Benfica entrar em campo sem identidade, sem garra, sem orgulho. Como se fosse normal um jogo europeu ser encarado como uma formalidade e não como uma afirmação de grandeza.
As camisolas continuam vermelhas, mas onde está o sangue que devia correr nelas? Onde está a revolta? Um dia, ser do Benfica foi sinónimo de inconformismo, de exigência absoluta. Agora, parece que ser do Benfica é aceitar qualquer coisa, desde que não seja “tão mau como o Sporting” ou “tão corrupto como o Porto”. E esse é o nosso padrão? É isso que queremos para o clube que já foi um colosso? Sendo que, mesmo neste aspeto, o saldo de títulos seja manifestamente confrangedor, em comparação a estes dois rivais.
E os resultados? A Luz, outrora um bastião incomparável, hoje vê adversários saírem de lá com sorrisos e vitórias no bolso. Eliminados pelo Inter em 2023 nos quartos-de-final. Humilhados pelo Salzburgo. Derrotados pela Real Sociedad. Atropelados pelo Feyenoord. Um empate desinspirado com o Bologna. Uma derrota caseira com o Barcelona. Um empate em casa com o Mónaco nos playoffs. E agora, mais um desaire com o Barcelona. Isto pegando nos resultados mais recentes. Se fizermos a análise mais detalhada, o cenário é ainda mais aterrador. O que aconteceu à velha Luz? Aquela Luz que rugia, que metia medo, que fazia o adversário tremer antes mesmo de pisar o relvado? Essa Luz morreu? Ou foi assassinada pelo conformismo?
Olho à minha volta e vejo apatia. Vejo um estádio que devia ser um inferno mas que mais parece um teatro, onde se aplaude qualquer esforço, por mais pífio que seja. Onde se assobia o hino da maior competição de clubes, que demonstra sobretudo a pequenez e a soberba existente no clube. Vejo adeptos que deviam exigir respeito pela história do clube, mas que se contentam com promessas e palavras bonitas. E eu? Eu continuo a gritar. Continuo a alertar para o abismo. Mas a verdade é esta: começo a duvidar se alguém me ouve.
Até quando, Benfiquistas? Até quando?
Cá estarei para lutar pelo verdadeiro clube, por mais que demore ou que pareça estar sozinho nesta luta. Farei isso em honra daqueles que estão cansados desta realidade e que estão prestes a desistir, pois devo-lhes o meu respeito e são um grande exemplo para mim.
Pelo Benfica tudo vale a pena, mas resta saber até quando é que o clube aguenta esta espiral. Espero nunca ter a triste realidade de contar aos meus filhos o que poderíamos ter sido, com a mágoa de pensar que tínhamos tudo para sermos incomparáveis. Já o somos, mas merecemos muito mais.
A principal causa da menor competitividade do futebol a nível europeu está na fraca gestão desportiva com o orçamento que temos. A cada ano reformula-se o plantel e muda-se de treinador, impedindo a construção de uma base sólida. Além disso, o treinador tem poucos anos de experiência ao mais alto nível, assim como os jogadores. Falta-lhes rodagem, intensidade e entrosamento ao mais alto nível– fatores que só se desenvolvem com tempo e continuidade. Quando não se tem orçamento para contratar jogadores e treinadores top, é essencial dar tempo para que se aprenda com os erros, se corrija defeitos, se potencie virtudes e se contrate os jogadores certos para as posições deficitárias. Vender os jogadores mal se aproximem de um patamar…