O ciclo de 2021 não está sendo nada fácil para o Benfica. Desde a passagem de ano, as Águias entraram em campo nove vezes, considerando todas as competições em disputa, e vêm tendo péssimo retrospecto: quatro empates, três vitórias e duas derrotas. Além disso, no mês de janeiro, foi registrado um surto de Covid-19 no ambiente encarnado: 17 pessoas, entre jogadores, membros da comissão técnica e funcionários, testaram positivo para o novo coronavírus, que atormenta o nosso planeta há mais de um ano. Mesmo com o elevado número de casos no plantel, nenhuma partida do Maior de Portugal foi adiada.
Dentro de campo, os resultados negativos foram bastante indigestos: o revés de 2 a 0 para o Braga, em Leiria, afastou o Benfica da final da Taça da Liga, e o de 1 a 0, no Dérbi de Lisboa, diante do Sporting, deixou os comandados de Jorge Jesus distantes da briga pelo título da I Liga. Dos três triunfos, dois foram contra times que brigam contra o rebaixamento no Campeonato (2 a 0 sobre o Tondela e 3 a 0 frente ao Belenenses SAD, ambos os jogos no Estádio da Luz) e um veio diante de um integrante da terceira divisão nacional (4 a 0 na visita à Estrela da Amadora, pelas oitavas de final da Taça de Portugal). Já os empates foram melancólicos: 1 a 1 contra o Santa Clara, em partida sonolenta nos Açores; 1 a 1 no Clássico com o Porto, que jogou com um homem a menos nos últimos 20 minutos do duelo no Norte; 1 a 1 com o Nacional, recém-promovido da II Liga, em plena Luz; por fim, um 0 a 0 com o sempre encardido Vitória de Guimarães, também na Catedral.
Porém, as posturas dentro e fora de campo têm sido piores que esses placares. Durante os 90 minutos, os jogadores parecem não ter ambição pelas vitórias. Após o apito final, apresentam ou aparentam um conformismo que, suponho, incomoda até mesmo quem não é benfiquista. Para uma instituição com a mística, o carisma e a relevância do SLB, tamanhas posturas são inaceitáveis. É verdade que, em tempos de Covid, fica muito difícil jogar com força máxima, mas um clube com elevado poder de investimento tem obrigação de montar um elenco com nível técnico equilibrado entre titulares e reservas.
O técnico Jorge Jesus, que recentemente apresentou péssimas atitudes em relação à sua conduta pessoal e à sua ética profissional, ainda não fez justiça aos esforços da diretoria para a sua contratação. O time coleciona atuações ruins e transmite aos adeptos a sensação de que mais de 100 milhões de euros foram jogados no lixo. Não se classificou à fase de grupos da Liga dos Campeões após a derrota vexatória para o PAOK na Grécia, não ficou na primeira colocação de um grupo com Rangers, Standard Liège e Lech Poznań na Liga Europa, e hoje está na quarta colocação da I Liga, a nove pontos da liderança. Quando JJ voltou para o SLB, em julho do ano passado, ele afirmou que “queria arrasar” e prometeu que o Benfica iria “jogar o triplo” e “não o dobro”. Bem, o triplo de zero é... Zero!
Agora vem a parte mais difícil do assunto: o grande culpado de todo o desmantelo, o presidente. Reeleito no pleito de outubro passado, com 62,59% dos votos, para mais quatro anos de gestão, Luís Filipe Vieira está no sexto mandato consecutivo. O dirigente nunca demonstrou que merecia prolongar seu comando no mais popular e mais vitorioso clube português, pois é diretamente responsável pelos consecutivos fracassos da equipe nas competições internacionais e pela irregularidade nos torneios nacionais. Além disso, o mandatário é investigado por fraude fiscal e lavagem de dinheiro em Portugal e, portanto, já apareceu nas páginas policiais. Contudo, Vieira goza de certa popularidade entre torcedores que vivenciaram o período das “vacas magras”, na virada do século XX para o XXI, e se deslumbraram com momentos de glória em campo, breves na década de 2000 e mais frequentes na década de 2010. Ainda assim, há muito mais erros do que acertos na Era LFV, iniciada em 31 de outubro de 2003. Nos últimos 18 anos, o Benfica perdeu 11 Campeonatos e 15 Taças de Portugal. Retrospecto deprimente para quem, sozinho, já teve mais títulos que Porto e Sporting somados.
O pior de tudo é não existir – da minha parte, ao menos – expectativa de melhora enquanto esse senhor estiver sentado na cadeira de presidente. E outubro de 2024, considerando que LFV não queira mais se candidatar à presidência (tomara...), ainda está longe. O “vieirismo” é um vírus que corrói o Sport Lisboa e Benfica, deixando os adeptos cada vez mais desmotivados e irritados e colocando a instituição em um patamar o qual ela não merece. Vieira até hoje se utiliza do fantasma de Vale e Azevedo – presidente do Benfica de 1997 a 2000, pior época do clube – para se estender no poder, mas, daqui a alguns anos, existirá outro fantasma, o dele próprio.
Foto: NurPhoto/Getty Images
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