A minha história de amor pelo Sport Lisboa e Benfica escreve-se com as palavras relatadas no velho transístor da minha avó, com as histórias narradas pelos desconhecidos do café da esquina, e com as conversas noite fora no rescaldo de cada jogo. Escrever sobre amor é sempre custoso, faltam as palavras e nunca é fácil acertar com a frequência da rádio, com o peso dos termos, ou com o tom do vermelho-Benfica de cada um.
A palavra. Tudo começa na palavra, e longas palavras tem o Benfica: Manuel, Michel, Ângelo, Humberto, Ricardo, Luís, António, Mário, Rui, Pablo, Tamagnini, Karel, Nicolás, Simão, Óscar, Nuno, Javier, João, José e, claro, Eusébio. Mas é também Carlos, Mike, Jean, António, Francisco, Ricardo, André, Alfredo, José ou Guilherme. São tantos os nomes próprios, na nossa história de nomes comuns coletivos, que se juntam para escrever: e pluribus unum.
O que torna o Sport Lisboa e Benfica especial, o mais especial de entre os que se definem mais do que um clube, é a sua história. A história que os nossos bisavós jogaram, que os nossos avós escreveram, que os nossos pais contaram e que nós continuamos. Perdoem-me o excesso de verbos, contudo, o Benfica é isto mesmo, é ação. É que a história tem sido feita de ação (e, eventualmente, de reação): de reerguer-se da saída de jogadores; de saltar de estádio em estádio; de mudar de hino; de construir a sua casa; de ter eleições livres, quando mais ninguém o tinha; de reagir ao racismo do Estado Novo; de ver proibida a venda do melhor jogador português do século XX; e a enumeração poderia continuar que nunca seria diferente, Benfica é sempre um verbo.
Mas o Benfica também é memória, e embora não viva no passado, o meu Benfica existe muito naquelas horas depois dos jogos, em que entre um ou outro copo, vamos recordando flops antigos, golos épicos, ou histórias anedóticas. O Benfica tem de ser isto, tem de ser eclético e independente, e tem de continuar a viver para além do clube-empresa, das sms do marketing, ou as promoções de última hora. O Benfica somos nós. E, para terminar, socorro-me de Cruyff e despeço-me dizendo que: escrever sobre futebol é simples, difícil é escrever de uma forma simples sobre futebol.
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