GOOD MORNING VIETNAME!
Poderíamos começar o #BilhetesComHistória desta maneira... Directamente do ano 2000, uma deslocação às Antas contada pelo nosso amigo Stephane.
E aqui vamos nós...
O Jogo
FC Porto 2x0 SL Benfica
19 de Agosto de 2000
Estádio das Antas
Onze: Enke, Rojas, Paulo Madeira, Ronaldo, Marchena, Poborský, Chano, Sabry, Maniche, Calado e Pierre van Hooijdonk
Suplentes: Bossio, Dudić, Fernando Meira, Sérgio Nunes, Kandaurov, João Tomás e Carlitos
Treinador: Jupp Heynckes
O sorteio do campeonato 2000/2001 decide uma primeira jornada nas Antas. Estávamos em pleno Vietname, e ir ao Porto naqueles tempos era mesmo considerado uma "operação especial". Tínhamos que escolher bem os nossos parceiros de viagem, porque nunca se sabia o que podia acontecer durante o trajecto Campanhã - Torre das Antas.
Era um verão quente, a maioria das famílias já estavam a aproveitar as férias de verão na praia. No meu caso, éramos vários primos (todos benfiquistas) a curtir as férias no mesmo sítio, na beira alta, na aldeia dos nossos avós... E num instante, e sem pensar muito, decidimos ir até ao Porto apoiar o nosso clube que bem precisava de nós.
Voltámos para Lisboa para viajar naquilo que se chamava o "comboio da morte" (aqueles comboios inter-regionais, todos em chapa). Éramos 5 primos no total, o mais novo tinha apenas 16 anos e era o meu irmão. Aquela viagem foi épica, nada era organizado como agora (nem pagamos bilhete de comboio), não havia spotters, não havia lugar para todos, nem sequer ar condicionado. Ainda mais, o comboio parava em quase todas as estações, Old School!
São tantas as histórias que eu poderia contar desta viagem que durou umas 5 horas... E já lá vão quase 20 anos.
Ainda me lembro do ataque à pedrada à saída de Coimbra B, da autoria de alguns membros dos Super Dragões. Naqueles tempos era tudo normal, parecia o "faroeste", foi um verdadeiro ataque planeado (pelos vistos voltou a moda), o pessoal da nossa carruagem saiu para fora e começou a replicar... Foram 10 minutos de guerrilha intensa até eles fugirem, nada de muito grave.
Já estávamos a entrar em terras do norte quando em Espinho, o CI do Porto invadiu o comboio, fechou os cortinados da nossa carruagem e começou a meter ordem no pessoal à bastonada até passarmos o Rio Douro... Nunca tinha visto algo tão assustador vindo da parte de forças policiais que deveriam estar ali para nos proteger antes de tudo. Como já o disse, os tempos eram outros, mas eu não estava habituado àquilo.
Chegada a Campanhã com o «comité d’accueil» azul e branco à nossa espera! Muitas senhoras de uma certa idade, muito bem educadas a desejar as boas-vindas aos "mouuuros" (risos)!
Muitos dos nossos parceiros de viagem tinham sido revistados à saída do comboio e enviados para uma esquadra. Dos 300 iniciais já éramos menos a andar aquela subida interminável (o caminho agora é outro). Entretanto, pessoal dos núcleos do norte e de Gaia juntaram-se a nós. Nesses momentos dás-te conta da força e união dos nossos nos momentos difíceis, o Benfica ganhava pouco e quase nunca nas Antas, por diversas razões, mas estávamos lá para apoiar o nosso glorioso contra tudo e contra todos!
De maneira quase surreal começou a chover, em pleno Agosto, já não era um bom presságio... Quando chegámos à Torre das Antas, a distância entre nós e os adeptos acolhedores da cidade invicta era quase nula, só a PSP é que tentava manter uma certa distância. No entanto não impediram outra chuva, essa de garrafas!!!
A nossa entrada dentro do estádio foi bem sucedida, aquilo parecia uma arena dos tempos romanos. Eles queriam carne e sangue e foi assim durante todo o jogo. Eles eram superiores e venceram com toda a normalidade e nós aceitámos o resultado resignados porque não se podia fazer melhor, 2-0 resultado final.
Esperámos bastante tempo antes de sair, e começou a chover novamente. Não me lembro bem das horas mas já era noite profunda e não havia comboio para regressar até Lisboa... Não foi surpresa para ninguém. Apareceram depois dois autocarros com lotação insuficiente para levar o pessoal de volta até Lisboa. Por isso, decidimos improvisar e ficar em terra e ir até à estação de autocarros sem conhecer nem uma rua da cidade do Porto. Fomos levados escoltados dentro de uma carrinha da PSP e lá conseguimos viajar até Coimbra de autocarro (cheio de adeptos azuis e brancos felizes da vida).
Depois de pernoitar «à la belle étoile» nos bancos da estação de Coimbra B, apanhámos um comboio pela manhã até à nossa Beira Alta para passar o resto das férias... Chegámos a bom porto por volta das 9 da manhã .
Recordação de um On TOUR que durou 24 horas sem dormir.
David, Jorge, Paulo... De todos Um.
▶ Texto da autoria do benfiquista 1904Awaydays
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