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Cinco Vitórias, Muita Bazófia: A Euforia Benfiquista e o Desafio da Realidade




Ser adepto do Sport Lisboa e Benfica implica viver intensamente a paixão pelo futebol, alimentada por décadas de glórias e conquistas históricas. Esta paixão inquestionável, no entanto, tem vindo a dar lugar, cada vez mais, a um fenómeno que podemos chamar de “bazófia”. Uma confiança desmedida, uma crença quase cega na superioridade inata do clube, que não raras vezes se torna desajustada face à realidade. E é precisamente nos momentos em que o clube alcança uma série de vitórias que esta bazófia atinge o seu expoente máximo. Cinco vitórias consecutivas bastam para inflamar um entusiasmo desmedido. Mas será que esta euforia se justifica, especialmente à luz dos números recentes e da situação interna do clube?

 

O Benfica, ao longo da sua história, sempre esteve associado à grandeza, quer no plano nacional quer no internacional. Contudo, é inegável que o clube tem atravessado, nos últimos anos, um período de menor fulgor. Se olharmos para os últimos 50 títulos disputados, verificamos que o Benfica conquistou apenas 11, o que corresponde a cerca de 22% dos troféus em jogo. Este dado, por si só, já seria motivo de reflexão. Porém, a situação torna-se ainda mais preocupante quando analisamos o período mais recente: nos últimos 24 títulos disputados, o Benfica ergueu apenas 2 troféus.

 

Estes números refletem uma realidade inegável: o Benfica, outrora dominador no panorama desportivo nacional, já não tem a hegemonia que em tempos deteve. É evidente que o clube tem a capacidade de competir ao mais alto nível, mas a falta de consistência nas conquistas deve ser encarada como um sinal de alerta, tanto para os adeptos como para os dirigentes. Não obstante, após uma sequência de cinco vitórias consecutivas, vemos novamente emergir a bazófia que se traduz numa confiança desmedida, como se estas vitórias fossem prova inequívoca de um domínio iminente. A verdade é que o futebol é muito mais complexo e exige uma análise mais ponderada.

 

No futebol, como em qualquer outro desporto, os ciclos de sucesso são definidos pela consistência. Ganhar cinco jogos consecutivos é, naturalmente, positivo e deve ser celebrado. Porém, a grandeza de um clube como o Benfica não se mede apenas pelos momentos, mas pela capacidade de manter uma trajetória de vitórias ao longo de toda uma época e, preferencialmente, ao longo de várias temporadas. A bazófia que se manifesta após uma curta série de vitórias ignora este princípio fundamental.

 

Ademais, a competitividade no futebol moderno é imensa. Equipas de menor calibre, com orçamentos consideravelmente inferiores, têm mostrado que a diferença em termos de qualidade dentro das quatro linhas se tem esbatido. Neste contexto, um clube da dimensão do Benfica não pode dar-se ao luxo de se iludir com vitórias momentâneas. O foco deve ser a longo prazo, onde a consistência de desempenho – e não apenas picos de forma – é que garante títulos.

 

Se dentro de campo a equipa procura reencontrar o caminho da glória, fora das quatro linhas o cenário revela-se igualmente ou ainda mais preocupante. O Benfica está atualmente envolvido em processos judiciais que lançam uma sombra sobre a integridade da gestão do clube nos últimos anos. Estas investigações expõem práticas que não só colocam em risco a imagem do clube como também levantam questões sobre o impacto financeiro destas decisões. A auditoria recentemente divulgada apenas veio reforçar estas preocupações, mostrando que as práticas de gestão tiveram consequências nefastas para o clube, não só a nível reputacional, mas também a nível financeiro.

 

É importante questionar como se pode justificar uma bazófia desmedida num clube que, à medida que celebra vitórias pontuais, está a enfrentar uma tempestade de problemas fora do campo. Os adeptos, em vez de se deixarem embalar por euforias momentâneas, deveriam exigir maior responsabilidade e transparência por parte da direção. O futuro do Benfica depende de uma gestão que olhe para o longo prazo, que proteja os interesses do clube e que tome decisões estratégicas que garantam a sustentabilidade financeira e desportiva.

 

A bazófia, embora muitas vezes vista como uma atitude arrogante, pode ser interpretada como uma expressão da paixão incondicional dos adeptos. No entanto, há uma linha ténue entre a confiança saudável e o desfasamento da realidade. Quando a bazófia se baseia em vitórias pontuais e não numa análise cuidadosa da situação do clube, torna-se prejudicial. Esta atitude coloca uma pressão desnecessária sobre a equipa e cria uma atmosfera onde a expectativa se sobrepõe à realidade.

 

Os jogadores são, muitas vezes, vítimas desta euforia desmedida. Entram em campo com a responsabilidade de manter a sequência de vitórias, sabendo que qualquer deslize pode gerar críticas ferozes por parte de uma massa adepta que já se deixou iludir por uma ideia de superioridade. Este ambiente, em vez de ser uma fonte de motivação, pode tornar-se uma fonte de ansiedade.

 

Para que o Benfica retome o seu lugar de direito no panorama nacional e internacional, é necessário mais do que confiança cega e vitórias momentâneas. O clube precisa de um projeto sólido e consistente, alicerçado numa gestão profissional e transparente, que seja capaz de enfrentar os desafios dentro e fora de campo. O caminho para o sucesso passa por uma abordagem equilibrada, onde a paixão dos adeptos deve ser acompanhada por uma visão crítica e realista.

 

É importante que os adeptos compreendam que o sucesso do Benfica não se constrói em séries curtas de vitórias, mas em ciclos sustentados de conquistas. É necessário um equilíbrio entre a paixão e a exigência, onde o apoio à equipa se mantenha inabalável, mas onde se exija, ao mesmo tempo, responsabilidade de quem gere o clube.

 

A bazófia benfiquista, que tantas vezes surge como reflexo de uma paixão intensa, necessita de ser temperada pela realidade. Cinco vitórias consecutivas são motivo de celebração, mas não apagam as dificuldades que o clube enfrenta. O verdadeiro desafio do Benfica, tanto para os adeptos como para a direção, é encontrar um equilíbrio entre a euforia e a razão. Só assim será possível construir um futuro onde o clube possa não só voltar a conquistar títulos com regularidade, mas também recuperar a sua imagem de credibilidade e força no futebol europeu e mundial.


▶ Texto enviado pelo benfiquista Bernardo Quialheiro.


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NOTA: A opinião aqui transmitida é da inteira responsabilidade do seu autor e não representa, necessariamente, a opinião do Benfica Independente.

1 comentário

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1 Comment


Guest
Nov 04

excelente.

e foi devido a esta cultura da bazofia que o treinador mais bazofeiro de sempre ficou tanto tempo mesmo não tendo grande parte do tempo resultados para apresentar.


e depois a juntar à bazofia vamos tendo o calimerismo porque este ultimo para os bazofeiros é a única maneira que tem para justificar que a realidade não se comporta como a a bazofia deles deveria ser.

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