O mundo divide-se entre otimistas e pessimistas. Na realidade, também existem aqueles para quem tudo é indiferente, mas isso estraga-me o raciocínio logo no primeiro parágrafo e vou deixar esses no banco.
Repito, o mundo divide-se entre otimistas e pessimistas.
Entre aqueles que acham que depois da tempestade vem a bonança e aqueles que acreditam piamente na lei de Murphy.
Entre aqueles que partiram uma perna, mas ao menos têm a outra e os dois bracinhos, e aqueles que pensam que só com uma perna e sem bracinhos não se consegue subir as escadas.
Entre aqueles que pensam que há coisas bem piores na vida do que o momento atual e aqueles que só pensam no fim trágico.
Entre aqueles que acreditam que o futuro será melhor — apesar de gastarmos uma ou mais vidas — e aqueles para quem esta já é um esforço.
Entre aqueles que sentem que todos os momentos fazem parte do nosso crescimento e aqueles que só recordam os dias maus.
O mundo divide-se entre otimistas e pessimistas.
Mas e a realidade fica onde? O que é o momento quando a bola insiste em não passar a linha? Qual o peso do passado quando o futuro já pareceu mais perto?
Quem estuda História sabe que as avaliações e análises com a bola ainda no ar e, sobretudo, antes do apito final valem pouco. É preciso distanciamento. E serenidade, mas isso não rima com amor ao futebol.
Depois dos primeiros berros de dor, angústia e medo — os meus vizinhos dirão que até pareciam urros — tentemos compreender tudo o que se tem passado nos últimos tempos: derrota; derrota; derrota. Isto são os factos. Ideias que parecem igualmente válidas: desgaste mental & físico; erros de abordagem técnica; incompreensão e medo (dentro e fora de campo). Lamentavelmente, não conhecemos o quadro todo para saber o que estará a acontecer realmente, por isso só podemos especular.
Sei bem que todos gostam de adivinhar e de validar teorias sem provas. O amor ao futebol e ao nosso clube também é isto. E isto acontece comigo amiúde e sei bem que não sou o único.
Também acredito que violência verbal ou física serve de pouco. Ou seja, desconfio que insultos a atletas, treinadores ou outros são contraproducentes. Pelo contrário, precisamos de recuperar o “colinho” e de gritar a plenos pulmões: “de muitos, um”. A resposta terá sempre de ser a mesma: união.
Não esperem que união seja o resultado da falta de crítica, pelo contrário a união é a soma de exigência e do desejo.
Sim, é sobre desejo que falamos aqui: queremos ser campeões. Mas só o podemos ser se todos lutarem por isto. Em campo, os jogadores têm de perceber o que significa vestir a nossa camisola. Menos do que concentração, profissionalismo, qualidade e suor é derrota. Nas bancadas, os adeptos têm de perceber que é um privilégio estar ali a representar quem não pode. Menos do que uma garganta rouca é derrota. Longe do estádio, os restantes adeptos têm de perceber que a sua hora chegará, que não faz sentido invejar os outros ou comprar guerras. Menos do que Benficar todos os dias é derrota.
E eis que chego ao fim e não posso fugir mais à dolorosa palavra: derrota. Doeu. Dói sempre, talvez doa mais quando nos pareceu um conceito ausente tanto tempo. Mas, se vivermos para lá do momento e da atualidade, a derrota esteve sempre presente na nossa história. O que sempre nos tornou grandes foi a capacidade de transformá-la em vitórias.
Por mim, e por ti que estás desse lado, tenho a certeza de que jogavamos já amanhã.
Nota: Compreendo que haja quem fique desapontado por não termos feito rescaldo. Compreenderei sempre, mas custa a forma como alguns o fizeram. Nunca duvidem que as pessoas do BI vivem o Benfica a toda a hora — muitas vezes em detrimento das suas famílias. E peço que nunca se questionem se somos benfiquistas só das vitórias. Gravamos muitos episódios em dias e noite más, até em períodos sombrios que pareciam não acabar. Acreditem que somos iguais a todos os que nos ouvem.
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