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Definição



 No mundo do futebol somos habituados desde cedo a ouvir certos chavões utilizados para caracterizar jogadores, nomeadamente, intensidade, técnica e definição. São certos intangíveis, muito difíceis de serem quantificados por qualquer dado estatístico trazido pela GoalPoint, mas que qualquer adepto do futebol já utilizou para qualificar um jogador. 


Apesar das análises quantitativas serem cada vez mais complexas e complementares à análise do desporto, continuam a pecar por escassas. Por exemplo, não é por um jogador atacante ter uma elevada percentagem de duelos ganhos que se torna um jogador dotado tecnicamente, ter vários sprints de alta intensidade não o torna um jogador intenso, e ter vários passes para finalização, ou remates à baliza, não o torna um jogador forte na definição. 


Para mim, e na forma peculiar como vejo o futebol (peculiar por ser a minha maneira de ver o jogo) o que faz a diferença entre um bom jogador e um craque, é exatamente essa capacidade de definição. A capacidade de saber quando passar ou transportar a bola; dar ao lado ou rematar à baliza; arriscar um passe ou prolongar o momento com bola. No caso de jogadores mais fracos, nesse momento, as rotinas de uma equipa ajudam os atletas a ser mais eficientes, uma vez que com a mecanização do processo, o jogador irá tomar mais vezes a mesma decisão ao invés de ser algo que parte da capacidade do próprio jogador. 


Posto isto, não estou aqui para demonstrar aquilo que é, para mim, a diferença entre um bom e um mau jogador. 


Enquanto que, dentro das 4 linhas o que diferencia os bons dos craques é a capacidade de definição ou falta dela, fora das 4 linhas, nos demais agentes envolvidos no jogo (nomeadamente treinadores e dirigentes), o contrário de definição é o seu próprio antónimo: a indefinição. Onde se conseguem traçar paralelismos entre quem tem qualidade no relvado, e quem tem fora dele. Fora do espetáculo que é o jogo de futebol, a capacidade de tomar decisões é igualmente importante e até mais fácil de averiguar consoante certos dados mais tangíveis. Do lado dos dirigentes e treinadores, a definição mede-se em vários parâmetros num espectro alargado, desde a construção de uma equipa de futebol profissional, até aquilo que deve ser a identidade de um clube. 


Sendo assim é possível encontrar padrões que determinam a definição do rumo, ou falta dele, que os dirigentes/treinadores de um clube/equipa têm. É o caso: i) da substituição de membros do plantel por outros atletas com características semelhantes ou traços que são equiparáveis entre eles, pondo de lado a potencial qualidade ou não do alvo identificado; ii) da definição daquilo que deve ser a matriz de jogo de uma equipa, com a escolha de um treinador/diretor desportivo que se coaduna com as ideias de quem toma decisões; iii) da estratégia comunicacional alargada e abrangente de modo a passar a 

mensagem daquilo que deve ser a identidade do clube; iv) do processo evolutivo de uma equipa/clube ao longo do tempo, pressupondo certas bases. 


Pondo de parte as comparações e a base teórica da questão, na prática vemos que falta definição ao Benfica. 


Existe neste momento no clube uma indefinição em todos os aspetos do seu dia a dia. Nos últimos anos a escolha de jogadores para compor o plantel tem sido duvidosa, mais uma vez, não pela falta de qualidade ou falta de investimento nos mesmos, mas por haver uma indefinição naquilo que se quer. No espaço de pouco mais de um ano, o plantel viu sair Grimaldo, substitui-o por Jurasek, e reencontra-se com Carreras, vê sair Ramos e tenta mitigar a perda com as aquisições de Arthur Cabral e Marcos Leonardo, vê sair João Neves, em troca direta por Renato Sanches. Não é a qualidade dos jogadores que está em causa, até porque isso tirando os casos óbvios é sempre algo subjetivo. Todas estas decisões pressupõem a inexistência de um critério naquilo que se acha necessário para atingir os objetivos. Representam a indefinição nas características que se acham necessárias para um determinado treinador/modelo de jogo ou, de outro prisma, a indefinição nos critérios que os dirigentes usam para prever o sucesso de um atleta. 


Nos próprios treinadores, nas últimas épocas, tirando os primeiros (distantes) 6 meses com Roger Schmidt, vemos uma indefinição daquilo que deve ser o estilo da equipa. Vemos jogadores a serem utilizados em várias partidas seguidas que simplesmente deixam de contar, vemos jogadores que não contam, ou que não deveriam contar, a serem utilizados durante 90 minutos nos maiores palcos, e vemos uma equipa que passa de tesão a mijo com uma facilidade gritante devido à indefinição nas decisões daqueles que rodeiam os jogadores. 


Na estrutura do futebol profissional já houve remodelações, com pessoas em pelourinhos importantes a sair (vejam-se os casos do Diretor de Formação e do Diretor de Scouting) e sem terem um substituto direto. Demonstrando a indefinição na estrutura que os dirigentes consideram como necessária. Existe uma indefinição, pelo menos exposta para os sócios, em relação a quem assume determinadas responsabilidades, algumas delas de máxima importância, como por exemplo a do Diretor Desportivo. 

Nas modalidades tínhamos visões contraditórias dentro do próprio seio da administração com membros, já demitidos, a falarem de um enorme custo relacionado com as mesmas, e investimentos históricos em modalidades como o hóquei. Mais uma vez, não avaliando a medida em si como boa ou má, mas sim como uma indefinição do que deveria ser um objetivo de uma estrutura. 


Isto tudo são fatores exclusivamente do foro desportivo, na SAD do clube já vimos praticamente toda a estrutura apresentada a votação a ser trocada. 


TRÊS vezes. 


Mas esta navegação à vista denota-se sobretudo naquilo que deveria ser basilar em qualquer clube, a sua Identidade. 


Nada grita mais indefinição do que a comunicação do Benfica. Na conferência de imprensa pós-jogo em Munique vimos um diretor de comunicação (?) a falar com o treinador a meio da própria conferência - se a criticá-lo se a apoiá-lo, deixo à vossa consideração, não é aí que me quero focar -, algo que nunca vimos em dois anos com o antigo treinador. Que a partir de um certo momento se perdeu naquilo que era a mensagem para o universo benfiquista, demonstrando, uma vez mais, a indefinição naquilo que deve ser o comportamento comunicacional da estrutura. Vimos o ano passado um sub-capitão da equipa de futebol sénior a defender que a equipa não devia qualquer palavra aos adeptos, no final de uma época desastrosa, enquanto tivemos o capitão da mesma equipa a pedir explicitamente desculpa a quem os acompanha por Portugal e pela Europa fora, no jogo em que ficámos arredados da luta pelo campeonato. 


Indefinição. 


A falta de foco paira em todos os setores do Benfica. Se no futebol tivemos uma reconstrução quase total do plantel em dois anos, mudança de treinador, mudança em cargos com poder de decisão no rumo que deve ser seguido e uma falha grave em termos de comunicação, acima de tudo desalinhados com os pergaminhos do clube. Nas modalidades, temos secções deixadas completamente à sua sorte, sendo que a única coisa rotineira e transversal a todas é o forte investimento ano após ano. Na SAD passámos o último mandato em constante revolução. 


Voltando ao início do texto, a rotina ajuda jogadores que não tenham tanta aptidão a conseguir definir com qualidade mais vezes, nos dirigentes/treinadores, o princípio é o mesmo. Havendo definição daquilo que é a identidade de um clube e os seus objetivos nos mais variados quadrantes, os dirigentes/treinadores vão estar sempre mais perto de acertar nas escolhas que fazem. Consequentemente, as papoilas saltitantes, dentro das 4 linhas, por esses estádios e pavilhões fora, vão estar mais perto de atingir os resultados desejados. 


Mais uma vez não se trata de criticar a decisão x ou y de uma forma singular, mas trata-se de olhar para toda a floresta que é a instituição Sport Lisboa e Benfica. E perceber que não existe um rumo definido, para que todos os intervenientes na vida da mesma, percebam que objetivos têm de ser alcançados. 


Existe uma contínua navegação à vista que compromete todo o esforço que milhares de pessoas põe ao serviço do clube. Não exijo que todas as decisões sejam acertadas, isso não é razoável, exijo apenas que essas escolhas sejam feitas consoante um fim que se idealize para o clube. 


Exijo que se defina o Benfica. 


▶ Texto enviado pelo benfiquista André Machado.


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NOTA: A opinião aqui transmitida é da inteira responsabilidade do seu autor e não representa, necessariamente, a opinião do Benfica Independente.

3 comentários

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3 Comments


Guest
há 3 dias

no fundo no caso dos jogadores e dos treinadores podemos traduzir isso por uma única palavra inteligência.

os jogadores que a tem decidem sempre melhor e mais vezes bem que os que não são e os dirigentes é igual.


e como dirigentes tivemos durante vinte anos um que era só, e apenas, um chico esperto e isso esta muito longe de ser inteligência mas pelos vistos ainda temos idiotas inúteis a chorar pelo dono do palheiro.

e agora temos alguém que no campo era inteligente mas que fora dele é o oposto cada um nasce para o que é.

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Guest
há 3 dias
Replying to

O GRANDE PRESIDENTE LUÍS FILIPE VIEIRA

 

Chamar "chico esperto" a um dos três melhores Presidentes de toda a história do Benfica, que conseguiu reerguer e reconstruir o Benfica (concreta e factualmente, desde a ruína em que estava em 2003 até lhe dar a supremacia desportiva e económica em 2020), é ofender o Benfica e a maioria dos seus sócios e adeptos.

 

Afirmar que o Grande Presidente Luís Filipe Vieira é desprovido de inteligência é uma mentira velhaca. A inteligência de L.F.Vieira está mais do que demonstrada, ao escolher para gestor da Formação Pedro Mil-Homens, para gestor Financeiro Domingos Soares de Oliveira, e para gestores dos vários Departamentos profissionais competentes. A profissionalização do Benfica realizada por L.F.Vieira foi um acto…

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Guest
há 3 dias

DEFINIÇÃO E PROJECTO

 

O que é o ‘BENFICA’? E o que é ‘SER DO BENFICA’?

 

A maioria dos analistas quer que continuemos a acreditar que os Projectos continuam para além das Pessoas. Que lhes são independentes. Contudo, Heidegger, pôs um pouco de água nessa fervura (nessa crença), ao afirmar em 1924: "O tempo somos nós" (Sind wir selbst die Zeit).

 

Assim sendo, a ‘definição’ depende do Projecto. E o Projecto vive da Promessa. Isto é, depende da Pessoa que promete. Quando se deixa de acreditar na Pessoa que promete, o Projecto desaparece.

 

Neste momento, a maioria dos sócios e adeptos já não acredita em «Rui Costa & Direção». Perderam definitivamente a confiança e a credibilidade. Não…

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⋆ E Pluribus Unum ⋆

MCMIV

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