Não tenhas medo. Arrisca! Não é fácil, mas nunca foi. Tenta, tenta, tenta. Desvia. Passa. Devolve. Atira. Recomeça.
Fuço! Larga a bola. Lá estás tu. Se não sabes, não fazes. Estás a tentar para quê? Vai brincar para casa. Não vales nada!
Será que ainda gostamos realmente de quem arrisca? Se o risco está na génese da criatividade, o erro é paradoxo. Tudo começa aí.
E, contudo, só desejamos a perfeição. A segurança. O conforto. A certeza. Lemos estes conceitos aconchegantes na publicidade, nos palavras dos familiares, até no mundo do futebol. Estamos obcecados com os números excecionais, com as promessas de divindades, com o deslumbramento da estatística.
Tudo é mais rápido, intenso, preciso. Inigualável. O ser perfeito. Adoramos a sacralidade que emana da máquina. Mas, afinal, onde está o poder afrodisíaco do erro pagão?
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A série documental sobre Di Maria também é sobre a vitória do risco. Das probabilidades que deram certo. Do mundo que continua a premiar o acaso. A carreira de Di Maria é feita de falhas, bolas perdidas e desilusões. E só depois de passes, golos e glória.
Os adeptos do Rosario Central, Sport Lisboa e Benfica, Real Madrid, Manchester United e Juventus nunca o irão esquecer. Nos pés dele vimos o melhor e o pior. Vimo-lo deslumbrante e apático. Vimos o seu céu e inferno, mas poucos ousaram fazer o mais importante: desfrutar. Em Paris, Di Maria foi compreendido. Olharam para ele como o sucesso que começa na falha e aproveitaram o momento, mesmo até ao último segundo. O adeus dele ao Paris Saint Germain é simbólico, em profunda comunhão com quem mais interessa: os adeptos.
Gostaria de pensar que a sua despedida da Luz será igualmente bonita, mas sei que não. Somos adeptos diferentes. Vibramos, acreditamos, desiludimo-nos, desistimos, somos um turbilhão de emoções a toda a hora. É o melhor do mundo. Não vale nada. Este vai ser gigante. Este nem na b. Desisto. Acredito.
Talvez seja preciso um reset à máquina. À nossa máquina. Ao nosso coração. O nosso amor ao futebol precisa de ser puro e intenso. Ingénuo, até. Vivemos num mundo de odds, de contratos milionários e esquemas diabólicos. Gostaria de ser diferente, de ser o que escrevo. De acreditar que vai ficar tudo bem. Que não há nada mais bonito do que uma cueca, rabona ou cabrito, mesmo que seja preciso falhar. Preciso de voltar a acreditar na pureza do erro e na glória daquela bola que sai picada da chuteira. Porque como diz Aimar: “A vida é de quem arrisca.”
PS: Amanhã, todos à AGE. O futuro de um clube também passa por arriscar debatê-lo.
Texto fantástico! Muito bem, João Tibério 😉