Já não há mais maneira de fingir que não existe um problema grave no ambiente dos jogos no estádio da Luz. Tem sido um assunto tabu para não ferir susceptibilidades e egos, mas a partir do momento em que esta situação começa a influenciar a prestação da equipa passa a ser um assunto de resolução urgente e, para isso, temos de o discutir.
A equipa tem tido uma prestação mais segura fora de casa, onde o apoio tem sido fortíssimo, do que na Luz e acredito que isso se deva, em parte, ao clima estranho que se vive actualmente na nossa casa. O “inferno” de outrora, que impressionava equipas e adeptos adversários, deu lugar a um estádio nervoso, silencioso e monótono que somente reage a golos e apenas por breves segundos.
Nota prévia: perdoem-me o texto longo, mas este é um assunto muito importante que não pode mais ser ignorado, a bem do Benfica e dos benfiquistas.
O contexto
Indiscutivelmente a questão da legalização das claques prejudicou, e muito, o ambiente do nosso estádio. Existe uma perseguição clara às claques benfiquistas porque foram as únicas a enfrentar o sistema e recusar uma lei injusta, absurda e feita para inglês ver, que na prática apenas serviu para encher os bolsos de alguns claqueiros sem escrúpulos. Quase todas as claques em Portugal estão ilegais, seja lá o que isso for, mas apenas as nossas estão impedidas de usar megafones, tambores e material com simbologia dos grupos. Por exemplo, a principal claque do Vitória de Guimarães tem apenas 12 membros inscritos no IPDJ mas é considerada legal… isto apesar de todas as semanas apresentar centenas de membros nas bancadas. Alguém do IPDJ e da Liga consegue justificar esta diferença de tratamento e explicar porque apenas o Benfica vê o seu estádio alvo de interdição quando TODAS as claques são ilegais à luz desta lei?
Proposta: o Benfica deve denunciar esta perseguição expondo o número de registados nas claques e confrontar estes valores com o que está escrito na lei. Facilmente se chegará à conclusão que todas as claques estão ilegais, mas para isso é necessário colocar pressão sobre estas instituições de modo a que justifiquem esta diferença de tratamento flagrante. A lei é para todos ou não é para ninguém!
Eu canto, tu cantas, ninguém canta
Se analisarmos o que é dito sobre o tema nas redes sociais parece que não existe problema. Ou melhor, toda a gente se queixa mas ao mesmo tempo afirma que apoia muito e que o problema é o vizinho do lado. Será? Será que fazemos mesmo a diferença naquelas 2 horas em que estamos na bancada? Não me parece. Eu não faço de certeza, dou por mim apenas a acompanhar palmas, soltar uns tímidos gritos de apoio quando o estádio se empolga ou a equipa tem uma fase fulgurante, mas na maioria do tempo sinto-me engolido pelo mar de silêncio e ansiedade de gente que, como eu, não reage, não se empolga… nada. Acreditem ou não, nem sempre tive esta atitude. Fui membro de uma das nossas claques por quase 2 décadas e sempre cantei, incentivei, fiz material de apoio e dava o meu melhor em todos os jogos, casa ou fora. Mas hoje olho à volta e sinto vergonha. Vergonha por mim e pelos outros que, tenho a certeza, também querem fazer mais e melhor mas não conseguem.
Permitam-me ainda um desabafo que, adivinho, será polémico: os novos cânticos são uma seca! Arrastam-se eternamente e o estádio começa a adormecer aos poucos. Onde estão os clássicos que punham o estádio todo aos saltos? Onde anda o “Glorioso SLB”, o “Ninguém pára o Benfica”, o “Loucos da cabeça”, o “Tudo a saltar”?
Proposta: voltar aos clássicos que o benfiquista comum gosta e reconhece e não deixar arrastar os cânticos ao ponto de quase ninguém cantar durante 10 ou 15 minutos.
Deixa-me sair já para não apanhar trânsito
Vou colocar a questão de outra forma, imaginem este cenário: conhecem uma pessoal especial que faz o vosso mundo girar e o coração bater mais depressa. A conversa é boa e flui naturalmente, partilham uma refeição maravilhosa com direito à vossa sobremesa preferida, depois vão beber um copo e divertem-se mais um pouco. Tudo correu bem, tudo foi perfeito. Chegam ao final da noite e em vez de se despedirem com um beijo à campeão/campeã dão meia volta e desaparecem sem dizer mais nada. É um bocado o que se passa com os nossos rapazes quando nos oferecem um bom jogo mas olham à volta e só vêem um estádio às moscas ondem ninguém se dignou a ficar mais 5 minutos para se despedir. É também nestes momentos que se ganham campeonatos, lembra-se daquele minuto 70 contra o Sporting em que estávamos a perder 0-3 sem apelo nem agravo? Tenho plena convicção que foi nesse momento de fervor benfiquista inolvidável que começou a conquista do campeonato 2015/2016.
Proposta: Não saiam antes do jogo terminar, o que são 5 minutos da vossa vida comparados com a emoção de ter visto o 10º golo frente ao Nacional, o golo do Jonas no Bessa e uma despedida digna aos nossos rapazes com um estádio em apoteose? É pedir muito? Acho que não.
O DJ Luzinhas
Horrível, é a única forma que tenho para descrever o trabalho do funcionário encarregado de animar a Luz. Nem vou comentar a escolha musical, porque isso depende de pessoa para pessoa, mas a falta de jeito e sensibilidade para entender os momentos do jogo é gritante. Antes do jogo iniciar temos uma discoteca aos altos berros que abafa qualquer tentativa espontânea de criar bom ambiente e o set musical só termina no exacto momento em que o árbitro apita para o início do jogo. Após cada golo é imediatamente colocada uma música aos altos berros que, mais uma vez, impede qualquer reacção popular para além de trautear o Seven Nation Army e gritar o nome do jogador que marcou o golo. Ao intervalo mais do mesmo: música estridente que dificulta até qualquer tentativa de ter uma conversa com a pessoa do lado. É ridículo e não acredito que exista algum benfiquista que tenha passado pelos 2 estádios que seja capaz de dizer que este Sr. Farol faz um bom trabalho.
Proposta: após a entrada das equipas e do Ser Benfiquista não colocar nem mais uma música e permitir que sejam os adeptos a comandar o apoio. Após cada golo esperar, contar até 20 devagarinho e depois sim anunciar o nome do marcador SEM colocar música. Mais uma vez, são os adeptos que têm de fazer o ambiente, não o DJ!
Tenho bilhete, mas não me apetece ir
Antigamente achava que o ideal era ter o estádio todo vendido só com lugares anuais, tal como se faz lá fora em Manchester, Dortmund, etc. Hoje percebo que esta estratégia não funciona em Portugal porque a mentalidade do adepto nacional é completamente diferente. Nunca pensei chegar ao dia em que estamos a 6 (agora 5) jogos de sermos campeões, ter a Luz com lotação esgotada e só aparecerem 56.000 pessoas. Faltaram cerca de 6000/7000 adeptos que tinham bilhete, não o cederam a amigos nem revenderam no novo sistema implementado pelo Benfica. Não há volta a dar, é um problema de mentalidade e por isso tem de haver um limite na venda de red pass e possivelmente uma análise às presenças dos detentores destes lugares para garantir que esta vergonha não acontece. Não se entende nem se aceita!
Proposta: Limitar a venda de red pass a 35.000/40.000 e impedir que pessoas que tenham ido a menos de 75% dos jogos (13) possam renovar o seu lugar no ano seguinte. Se não querem ir à bola que cedam o lugar, não é aceitável existirem lugares vazios quando há benfiquistas dispostos a ir ao jogo!
Os assobios
Para estes não há solução. O único lugar que estes “benfiquistas” (aspas propositadas) deviam ter era fora do estádio. Em condições normais este fenómeno já é revoltante por si só, mas assistir a este triste espectáculo quando a equipa está a jogar bem e a ganhar é absolutamente revoltante. “Estúpido” é o adjectivo mais simpático que encontro, mas não descreve totalmente uma pessoa que assobia a própria equipa numa fase em que esta necessita precisamente do contrário. Pior, normalmente estes artistas são muito rápidos a pressionar os nossos mas incapazes de assobiar a equipa adversária ou o árbitro. São uma espécie de anti-benfiquistas que deveriam ser impedidos de entrar em qualquer estádio onde jogue o glorioso.
NOTA: Há obviamente excepções e uma assobiadela no final do jogo pode ser necessária para mudar o estado das coisas, mas deve ser encarada como uma excepção e não a regra.
Faz sentido exigirmos este mundo e o outro a clube e atletas quando nós próprios não apresentamos os mínimos olímpicos no apoio na Luz? Quando não aparecemos nos estádios/pavilhões, assobiamos a equipa, abandonamos o jogo antes de terminar ou simplesmente não gritamos BEN-FI-CA a plenos pulmões? Porque o fazemos nos jogos fora de maneira formidável mas em casa ficamos calados? Porque damos festival de apoio em Dortmund, Porto, Alvalade, e basicamente todos os estádios onde o Benfica vai jogando, mas na nossa casa nos sentimos envergonhados?
Este problema não é do clube, das claques, dos adeptos da central ou dos atletas: é de todos e é entre nós que temos de o resolver. Queremos o Benfica campeão, certo? Então vamos fazer por isso!
Concordam que o ambiente na Luz já teve melhores dias? Que medidas poderiam ser tomadas para resolver a situação?
Deixem os vossos comentários e opiniões.
Rui Nogueira... Eu sei disso, não compreendo que os adeptos naquele sector se colem uns aos outros... Se eu no meu sector não posso estar de pé e fora do meu lugar, a eles também não o deveria ser permitido. A sugestão seria fazer como se faz em alguns estádios lá fora e no lugar destinado para as claques não existirem cadeiras. Continuo a defender que as claques deveriam estar todas concentradas no mesmo sector.
Parabéns pelo artigo que está excelente. De facto o ambiente no estádio não é o inferno de outros tempos. Acho que há aqui vários factores. Primeiro, a era RV retirou muita confiança aos adeptos. Passámos da crença de que podíamos ganhar a qualquer um para ver jogos sofridos, a equipa a defender vantagens e a ser pressionado até por equipas menores. Sei que ainda deu para dois campeonatos, mas o modo como a equipa não assumia muitas vezes o jogo minou a confiança dos adeptos. Neste momento, como o Lage brilhantente colocou, os adeptos sentem que a equipa pode perder o campeonato pela segunda vez. Isso resulta da quebra na qualidade do jogo desde o jogo no Dragão (trouxe novos…
Rui Nunes no piso 0 da Sagres há poucos lugares disponíveis, estão é mal distribuídos, a quantidade de gente que fica nas filas do topo e até por detrás das cadeiras deve dar para encher aquilo tudo.
Tens dois níveis, o pessoal do muro e o pessoal que prefere ficar muito menos visível.
Boa tarde Nuno,
Artigo excelente que espero que sirva para mudar o ambiente desta nova Luz.
O que mais me custa a perceber é porque este mau-estar se nota nesta altura. Se no ano passado e no início desta época até poderia ser compreensível devido ao mau futebol praticado pela equipa e alguns maus resultados, neste período que deveríamos todos "remar para o mesmo lado", não tem qualquer lógica.
Mas isto não se sente nos jogos fora. O último que me lembro de alguma divisão a determinado momento foi no jogo do Bessa que perdemos na época passada por 1-0. Mas como disse antes, nessa altura estávamos a jogar mal, e no final do jogo a equipa não agradeceu o…
Obrigado pelos vossos comentários, infelizmente esta plataforma não permite responder directamente por isso vai por aqui:
@Carlos Serradas:
Excelente essa ideia da flash no relvado com o som a passar no estádio! Uma coisa tão simples que poderia fazer toda a diferença. O problema seria nos jogos em que a coisa não corre tão bem... mas é algo que pode ser pensado.
@Lucília Costa
Realmente é desolador ver os jogadores agradecer a bancadas completamente despidas, não faz sentido e só acentua o fosso existente entre os adeptos e a equipa. Aos poucos temos de ir mudando mentalidades e fazer ver que estes momentos também servem para motivar os rapazes para o próximo jogo.
@Daniel Amado:
Obrigado! O primeiro passo é…