Lisboa, 1958
Em surdina, duas pessoas discutem as próximas eleições presidenciais. Uma delas - o meu avô - procura explicar que o General Humberto Delgado é o homem certo neste momento da História.
- Não é a questão de ser um Messias predestinado, qual José Águas, ele é apenas um homem que conhece os seus, que já lutou por nós, que está nesta nova batalha pela vontade de poder fazer algo para melhorar o mundo, o nosso mundo.
- Deves querer voltar à Primeira República! - responde o outro. - Não podemos estragar tudo aquilo que foi feito pelos nossos dirigentes. Portugal era um país instável, pobre e desrespeitado na Europa e no Mundo. Queres voltar a esses tempos?
- O Estado Novo tem 25 anos. Até pode ter melhorado algumas coisas, mas já viste tudo o que temos passado? Perdemos a liberdade por causa do medo de um papão longínquo e humilhamos pessoas em nome de uma pátria que mal conhecemos os limites. Desculpa, mas a verdade é só uma: não se pode travar o futuro com medo do passado.
Lisboa, 1986
O país está dividido. A esquerda e a direita esgrimem alguns factos e muita propaganda. Ao contrário das eleições de 1958, hoje temos liberdade. Pode-se discutir na rua, nos cafés, em casa. Não há medo de dar uma opinião e ser preso. E é por isso que em muitas casas, como na minha, os almoços de família são assim:
- Tem de ser Soares. A esquerda tem de se unir. Não podemos desperdiçar uma oportunidade destas.
- Não sei se consigo. O meu candidato perfeito não tem o perfil dele. Há demasiadas coisas nele e no que ele defende que são diferentes das minhas ideias.
- Eu compreendo, juro que sim. Todos temos uma ideia do nosso candidato perfeito. Alguém que foi feito a régua e esquadro com as medidas perfeitas e as palavras certeiras como um remate de Nené. Mas essa pessoa não existe. O teu candidato já não conta para o totobola e hoje temos de votar em alguém que possa fazer a diferença. Temos de nos unir. Nem que tapes os olhos quando fores votar, mas tem de ser. O teu voto pode fazer a diferença.
Lisboa, 2020
30 de outubro* é dia de cumprir um dos deveres de sócio do Sport Lisboa e Benfica. Parece algo simples, mas acreditem que não é. O nosso voto deve ser resultado do trabalho de análise dos programas dos diferentes candidatos. A nossa escolha deve sair da discussão (saudável) do que desejamos para o nosso clube e do que temos à disposição. Porém, os tempos estão agrestes. Os media e as redes sociais vivem de soundbites e polémicas, enquanto nós tornamo-nos especialistas em pedidos à la carte. Perdemos o gosto de ouvir o próximo, o interesse em conhecer o outro, e apenas queremos ganhar os debates por KO. Só que o primeiro capítulo de qualquer livro de sociologia política dirá que não é assim que se vive em democracia, não é assim que se deve viver em liberdade. Temos de fazer algo mais. Eu tive a sorte - e o trabalho - de junto com a equipa do Benfica Independente ter preparado as entrevistas aos candidatos. Li os programas, vi reportagens, ouvi discursos e assim pude comparar projetos e ver qual se aproxima mais do que pretendo para o meu Benfica. Nunca haverá projetos perfeitos, todavia há alguns que estão mais disponíveis para ouvir os benfiquistas e tornar real o lema E Pluribus Unum. E é por isso que vou votar num projeto que lute verdadeiramente pelos resultados desportivos; pela transparência das decisões; pelo ecletismo; pelo associativismo; pela modernização da estrutura; pela BTV; por uma comunicação que defenda o clube; pela sustentabilidade financeira; pelo futebol feminino; pela formação; por um clube menos dependente de super agentes; pela História e pela nossa memória coletiva. Dia 30 voto João Noronha Lopes porque junto de Francisco Benitez, daqueles que compõem a lista e daqueles que estão na campanha, há uma ideia de futuro, há uma ideia de Benfica. Há um Sport Lisboa e Benfica feito com a mesma vontade e paixão dos primeiros moços que se reuniram na Farmácia Franco. Hoje, o Benfica precisa de benfiquistas. Está na hora. A glória é agora.
Nota: Esta decisão é apenas minha e independente - como é apanágio de todo o projeto BI - do resto dos meus camaradas. A principal coisa que nos une é o amor ao Benfica, sendo que todos acreditamos em diferentes formas de defender o nosso clube e isso será sempre saudável. E, sobretudo, nunca se esqueçam que dia 31* continuaremos a ser o Sport Lisboa e Benfica e a precisar dele mais unido do que nunca porque os próximos tempos não serão fáceis.
* a data das eleições foi entretanto antecipada dois dias.
NOTA: A opinião aqui transmitida é da inteira responsabilidade do seu autor e não representa, necessariamente, a opinião do Benfica Independente.
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