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Foto do escritorJoão Paulo Silva

Foi só uma virose – amanhã às 20h, parINTERcetamol




Imagine caro leitor que está à porta do Estádio da Luz em dia de jogo e pergunta a quem passa qual é a sua preferência futebolística. Não temos grandes dúvidas que a maioria escolherá o Sport Lisboa e Benfica tal como, se a mesma pergunta for feita no Dragão, a maioria escolherá o Porto.

A escolha da amostra é decisiva num estudo e facilmente percebemos que neste caso, estaríamos a fazer batota na nossa “sondagem”.

Agora, arriscando acompanhar o raciocínio de um professor de matemática, continuem a pensar alto comigo.

Têm que perguntar às mesmas pessoas qual era o seu prato preferido. Não consigo imaginar qual será a resposta que a primeira pessoa irá dar ou, sequer, das dez primeiras, mas quanto maior for o número de respostas, maior será a probabilidade de encontrar como escolha mais comum um prato “consensual”, seja lá o que isso for. O Sushi está na moda, mas terá uma marca etária, as tripas ou a feijoada serão pouco consensuais, etc... Vamos parar, não tenho dúvidas, num incrível Frango de Churrasco feito pelo nosso Sérgio!

Ou seja, quanto maior for a amostra, mais a escolha tende a ser “consensual”.

Assim sendo, em relação à questão do apoio no estádio quanto mais gente estiver no estádio mais o comportamento tende a ser “consensual” e o comportamento “natural” da maioria não é o de apoiar em pé e a cantar o jogo todo.

O povo Português é pouco dado a expressões públicas dos seus sentimentos. É o povo que menos manifestações faz, é um povo culturalmente recatado, como se a emoção fosse coisa individual. Não há tradição nem cultura de bancada onde “todos” puxam. Mesmo no antigo estádio era assim. Claro que as nossas memórias vão buscar o que de melhor lá vivemos, mas não era assim tão diferente do atual. Ou melhor era diferente, mas sentia-se que estava a acontecer alguma evolução que nos trouxe até aos nossos dias.

Num jogo fora, com três ou quatro mil dos nossos nas bancadas, a presença dos mais expressivos é mais significativa do que em nossa casa. O exemplo que tivemos há dias no pavilhão da Póvoa é disso uma prova. Menos Benfiquistas criaram um ambiente absolutamente incrível, precisamente porque era “um produto mais concentrado”.

Dito isto, penso que sofremos da nossa grandiosidade que ao serviço do “deus mercado” se torna um problema bem sério.

Vamos a mais uma explicação?

O Benfica tem 1000 lugares para vender e apenas 100 interessados. Agora imaginem que tem os mesmos 1000 lugares e tem 5000 interessados. O que acontece aos preços?

Já muitos descobriram uma inflação “bem desagradável” nos preços das entradas na Catedral. Com esse aumento o acesso fica mais complicado para uns, os mais desfavorecidos, aqueles para quem a vida dá menos oportunidades.

Há mais gente de fato e gravata ou de saltos altos a comprar bilhetes e o ambiente no estádio vai, naturalmente, sentir-se disso.

Para quem não vive com os dias que sobram no fim do ordenado, ir ao estádio é apenas mais um momento na vida. Pode ser mágico, incrível, mas é apenas mais um momento bom da vida. Será que dá tudo o que pode? Ou melhor, será que dá tudo o que a equipa precisa?

Para outros, que vivem mal e em situação desconfortável, entrar no estádio é tudo. É o acontecimento da semana, ou do mês, quem sabe do ano ou até de uma vida. E aí vai com tudo, porque ali está a cumprir um sonho. E será que cumprindo esse sonho na bancada, dão tudo pela equipa?

Reparem que não estou aqui a personalizar, nem a criar rótulos. Estou apenas a criar figuras que permitam ajudar a pensar.

Mas, o Benfica são, “somos”, estes todos, homens e mulheres, adultos e crianças, gente com formação académica ou analfabetos, quadros superiores ou operários e essa foi e será sempre a nossa maior força.

A força dos que estão nos bairros de Lisboa, na Ericeira, na margem sul, em Canelas, na Alemanha, nos Estados Unidos ou nos Açores. Fazemos todos, à nossa maneira, o Benfica.

E é por isso que a derrota de sexta-feira foi tão discutida, porque nas nossas diferenças, temos dificuldade em encontrar uma explicação.

Pode ter sido o medo cénico ou o brilhantismo tático do Sérgio Conceição, as falhas do nosso guarda-redes ou o estilo mais duro do Otávio.

Mas, encontrar uma explicação, não encontramos!

E não a encontramos porque ela não existe. É como os “putos no médico”:

- "Foi uma virose. Tome lá um bem-u-ron e espere uns dias."

O nosso chama-se Inter e é para tomar, amanhã, às 20h!

De muitos, UM!

...


João Paulo

(Canelas, Vila Nova de Gaia)


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