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Jorge Jesus e o volte-face no projecto desportivo



O carrossel de treinadores que têm sido associados ao Benfica após a saída de Bruno Lage tem andado na ordem do dia e Jorge Jesus não podia deixar de fazer parte do rol. No entanto, após ele SUPOSTAMENTE ter rejeitado uma primeira abordagem do Benfica, o seu nome voltou ao topo da lista nos últimos dias.


Antes de mais, há uma coisa que quero deixar bem clara. Eu assumo sem quaisquer problemas que gostaria que Jorge Jesus regressasse ao Benfica e quem me conhece sabe perfeitamente disso. Nos meus 28 anos de vida, foi com Jorge Jesus a treinar do Benfica que vivi grande parte das minhas alegrias enquanto benfiquista, foi com ele ao leme que comecei realmente a ver o Benfica a jogar bom futebol.


E a verdade é que no meio de asneiras e alegrias, Jorge Jesus é um treinador que ficará para sempre na memória dos adeptos e que deixou grandes marcas no Benfica, marcas das quais, poderei falar caso o seu regresso venha a concretizar-se. Mas aquilo que realmente me leva a defender o seu regresso, é que eu sei que ele colocaria o grau de exigência do clube lá no alto, algo que nos dias de hoje, está longe de se verificar.


Porém, este eventual regresso de Jorge Jesus é um sinal de que Luís Filipe Vieira está disposto a tudo para se manter na cadeira do poder. E a verdade, é que já há vários meses que eu tinha um pressentimento de que poderia acontecer uma situação deste género. Só que face aos tempos de pandemia que vamos vivendo, durante a suspensão do campeonato, eu acreditava que Luís Filipe Vieira iria usar o Covid-19 como pretexto para aplicar mais um rombo no plantel no Benfica, investindo pouco em reforços e não cobrindo todas as lacunas que este tem evidenciado.


No entanto, os péssimos desempenhos da equipa no regresso à competição voltaram a realçar o meu primeiro pressentimento. Hoje, estou cada vez mais convencido que, caso o Benfica não seja campeão, Luís Filipe Vieira irá contratar um treinador de créditos firmados (com JJ à cabeça) e irá investir muitos milhões em reforços de gabarito (daí ter antecipado receitas da NOS e pedido um novo empréstimo obrigacionista).


E depois, caso o Benfica cumpra os objectivos na próxima época (isto é, conquistar o campeonato, pelo menos uma das Taças e fazer boa figura nas competições europeias), no Verão de 2021, Luís Filipe Vieira voltará a depenar o plantel, vendendo vários jogadores nucleares e voltará a vir com o discurso da formação e do Seixal


Acima de tudo, tenho vindo a acreditar que é isto que vai acontecer visto que, tendo em conta que irá haver eleições no próximo mês de Outubro, Luís Filipe Vieira atravessa provavelmente, o foco de maior contestação nos últimos 10 anos. e o próprio sabe bem que só mesmo um treinador que goste de mandar em tudo como Jorge Jesus o poderá ajudar a recuperar o voto dos sócios que têm vindo a perder a confiança nele.


Eu faço parte desse lote adeptos. Já aqui o disse numa carta aberta ao Presidente e admito sem quaisquer problemas que até há relativamente pouco tempo atrás, Luís Filipe Vieira sempre teve o meu apoio e consideração. Porém, após a conquista do Tetracampeonato, começaram a ficar expostas as sucessivas falhas de planeamento e a falta de visão e de estratégia desta direcção, tornando-se cada vez mais urgente uma mudança de ciclo no clube. E caso o regresso de Jorge Jesus se confirme, a minha opinião não mudará em função disso.


Regressando ao "assunto JJ", como eu tenho vindo a pensar há algum tempo e como o Pedro Adão e Silva disse (e muito bem) n'A BOLA, hoje em dia, Jorge Jesus é visto como o salvador do projecto do Benfica.


Lembro-me que, aquando da sua saída em 2015, a imprensa vinha a especular nos meses anteriores que o Benfica iria entrar em contenção de custos, ou seja, que iria investir menos dinheiro no plantel, iria haver menos contratações sonantes e que iria ser feita uma aposta mais vincada na formação.


E dadas as circunstâncias, na altura, a direcção do Benfica entender que ele não era o treinador indicado para a "mudança de paradigma" que tanto se falava naquele tempo, justificando que os planos que tinham para o Benfica nos anos seguintes eram incompatíveis com os métodos e as ideias de Jorge Jesus.


E se naquela altura, a tão apregoada estrutura dava provas de confiança aos adeptos, os anos decorridos até hoje vieram a mostrar que tudo não passava de fogo de vista, sendo que hoje, Jorge Jesus já é visto como uma espécie de força-motriz da estrutura. A mesma estrutura que não contou com ele há cinco anos atrás.



Mas para além disso, este eventual regresso de Jorge Jesus também trás outros acontecimentos à nossa memória. Ao fazer regressar Jorge Jesus, Luís Filipe Vieira está a fazer regressar um treinador que já processou em tribunal, um treinador que acusou de ser um traidor e de ter sido desleal para o Benfica, um treinador a quem acusou de ter roubado software e de ter divulgado informações privadas do clube.


E por muitos anticorpos que Jorge Jesus tenha deixado no Benfica e por muitos adeptos que tenham ficado magoados com as suas atitudes, a verdade é que à medida que o tempo passa, vai-se tornando cada vez mais evidente que, no meio desta guerrilha que houve entre Vieira e JJ, quem ficou pior na história foi o Benfica e não Jesus.

Porque afinal de contas, foi preciso um treinador mudar-se para o outro lado da Segunda Circular, para ver o Presidente a armar-se em moralista, acusando o treinador amadorense de ter manchado o Benfica, quando nos últimos anos, houve uma grande variedade de ataques vindos dos rivais e da imprensa associada a estes, que mancham ainda mais o bom nome do Benfica, e aos quais não se vê qualquer reacção, nem por parte de Luís Filipe Vieira, nem por parte da marioneta que dirige a comunicação do clube.



Para além do mais, Luís Filipe vieira também chegou a dizer numa entrevista que com Jorge Jesus a treinador, era impossível fazer planos a longo prazo. E numa reunião que teve com alguns sócios do Benfica no ano passado, também garantiu que enquanto fosse presidente, Jorge Jesus nunca regressaria ao Benfica.




Como disse Ricardo Araújo Pereira, poucos minutos após a confirmação da sua saída, Luís Filipe Vieira queria mostrar que o Benfica e a sua estrutura era capaz de continuar a ganhar sem Jorge Jesus e que o novo paradigma assente na aposta na formação também servia para o Benfica dominar a nível nacional.


E no final, aquilo que se viu, foi um Benfica sob o comando técnico de Rui Vitória que conseguiu nos primeiros dois anos dar continuidade ao trabalho realizado por Jorge Jesus, mas que perante a falta de ideias do seu sucessor e também da estrutura, foi-se deixando desamparar com o passar do tempo.


E por muitos Benfiquistas que tenham entrado em negação quando Jorge Jesus se mudou para o Sporting (tal como eu também entrei), hoje percebemos que a veracidade das declarações de Ricardo Araújo Pereira é assustadora.




Aproveito também esta ocasião para fazer um pequeno exercício: em 17 anos de presidência e a terminar o quinto mandato, Luís Filipe Vieira viu o futebol do Benfica a conquistar 22 títulos, 10 dos quais, sob o comando técnico de Jorge Jesus (45% dos títulos).


Depois, chegado ao Benfica em 2009, Jorge Jesus foi o sétimo treinador do Benfica em seis anos de Luís Filipe Vieira na presidência do Benfica, e o 17º treinador do Benfica desde o ano de 1994.. Sendo assim, coloco uma questão, se Jorge Jesus nunca tivesse chegado ao Benfica, quantos treinadores teriam passado pelo Benfica durante a "era LFV" e quantos títulos o clube teria conquistado neste período?


Já por vários vezes, ouvimos Luís Filipe Vieira dizer com todas as letras que não percebe nada de futebol. E uma boa prova disso mesmo está reflectida nos treinadores que escolheu. Em nove treinadores (não contando com Nelson Veríssimo), considero apenas três deles como treinadores a altura da dimensão e das exigências do Benfica: Trapattoni, Ronald Koeman e JJ.

(Por muito potencial que Bruno Lage tenha como treinador, ainda tem muito a aprender e foi atirado aos leões num contexto complicado)


Se nos primeiros anos de presidência, Luís Filipe Vieira escondia-se atrás de pessoas como José Veiga e Rui Costa, durante seis anos, foi Jorge Jesus que personificou o próprio projecto do Benfica. Porque afinal de contas, todos nós devemos saber que Jorge Jesus é um treinador que gosta de ter controlo sobre tudo dentro da estrutura do clube.


Aliás, aquando da sua saída, acreditei que o motivo que levava Jorge Jesus a querer sair do Benfica, era o facto do Benfica não lhe dar mais poder dentro do clube, um poder que lhe permitisse contratar e segurar os jogadores que quisesse a qualquer custo. Algo que a meu ver, um clube dentro da realidade financeira do futebol nacional não se pode dar ao luxo de aceitar. Porque, por muito que Luís Filipe vieira e Domingos Soares de Oliveira nos queiram convencer do contrário, os clubes portugueses precisam de vender jogadores com regularidade para manterem as contas equilibradas.


E a verdade é que, a partir da saída de Jorge Jesus, Luís Filipe Vieira foi ganhando mais poder de decisão no futebol e como consequência, os erros de planeamento vão se sucedendo ano após ano.Por exemplo, nas seis temporadas em que Jorge Jesus foi treinador do Benfica, perdeu jogadores influentes todos os anos. E com maior ou menor dificuldade, JJ soube sempre encontrar soluções, fosse através da adaptação de jogadores (casos de Matic e Enzo Pérez, por exemplo) e/ou através da contratação e prospecção de novos reforços.


Hoje em dia, vemos um Benfica com lacunas por resolver há anos: vemos um Benfica que não reforça posições expressamente pedidas pelo treinador, vemos um Benfica que não contrata um segundo avançado após a saída do João Félix, vemos um Benfica que anda a brincar aos laterais-direitos desde a venda do Nelson Semedo, vemos um Benfica a não querer contratar jogadores na casa dos 30 anos ( não ser que sejam agenciados pelo Jorge Mendes), porque "não enquadram no projecto".


Outro exemplo da falta de competências futebolísticas de Luís Filipe Vieira, é que este fala vezes sem conta que quer ver um Benfica a brilhar na Europa com uma equipa com uma espinha dorsal formada por jogadores da formação, mas depois não é capaz de criar um contexto que favoreça o seu crescimento. Mas esse é um assunto sobre o qual pretendo escrever brevemente.


Moral da história: acredito que Jorge Jesus tem capacidades para voltar a colocar o Benfica onde merece, mas a sua contratação vai contra tudo aquilo que o Benfica apregoou nos últimos anos (estrutura, projecto, formação...) e virá com a missão de "ajudar" Luís Filipe Vieira a manter-se no trono por mais quatro anos.


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