Hoje acordamos e temos aquilo que merecemos. A inércia dos sócios do Benfica é, para mim, a principal culpada de tudo o que se tem vindo a passar. Desde 2009, deixámo-nos de preocupar em fiscalizar a ação da Direção e começámos progressivamente a perder o clube, que é nosso, para alguém que não o ama nem quer saber dele como nós.
Sim, porque é bom relembrar que todas as vergonhosas alterações nos Estatutos do Clube, foram votadas em Assembleia Geral e aprovadas pelos sócios. Vieira fez um trabalho notável na recuperação do nosso Benfica, e como já conheço a crítica do costume a nós mais jovens quando falamos do Benfica, não, não vivi o período do Vietname, mas não preciso de o ter vivido para saber perfeitamente o que se passou, porque creio que qualquer benfiquista que se preze, quer tenha 60 ou 18 anos como eu, conhece a história do seu clube. Por isso, creio que esse argumento já é muito limitado para quem continua a defender que devemos aquilo que somos hoje a Luís Filipe Vieira.
Contudo, volto a dizer que a reação ao período que estamos a viver tem de partir de nós. Não vale a pena estar eternamente à espera de que existam pessoas a romper com a Direção e a iniciar como se de um golpe de estado no clube se tratasse, como vejo em muitos sítios. Olhem para a história do Benfica, que essa sim ensina-nos muito. Eu não era nascido, mas creio que muitos já o eram, quando em 2000 se mostrou que o clube era nosso. Aqueles que estão lá dentro não querem de lá sair, porque têm todos os privilégios que querem e, para muita pena minha, começando por Rui Costa, talvez também não amem assim tanto o clube.
Vieira conseguiu o que quer e nem nós próprios conseguimos ver isso. Olhamos muitas vezes para o Benfica como uma empresa e vemos com medo a mudança, quando esta está à frente dos nossos olhos, porque estamos bem financeiramente, a internacionalizar a marca e porque sem ele nem as pedras da calçada tínhamos. Mas, mesmo assim, esta tão conceituada empresa da qual somos adeptos e pela qual sofremos não tem dinheiro para inscrever equipas das modalidades nas competições europeias e tem de passar pela vergonha de recorrer a uma OPA sem qualquer tipo de justificação.
Este é o Benfica que temos, porque o desejamos ter, não me canso de frisar. Somos nós que permitimos ano após ano que brinquem connosco como se de marionetas nos tratássemos. O contrato da NOS ia acabar com o passivo, mas o que é certo é que ele continua lá e agora temos de antecipar as receitas porque não há dinheiro. Vendemo-nos totalmente às decisões de um empresário sem sequer nos questionarmos sobre comissões ou de jogadores que chegam ao clube e nem vestem a camisola.
Tudo isto contra um rival intervencionado pela Uefa que está prestes a ganhar-nos o segundo campeonato em três anos, com um dos piores plantéis de que há memória, apenas porque parece que temos o prazer de todos os anos os ressuscitar quando a morte é certa. Quando desmascaradas, todas as bandeiras vendidas pelo presidente são uma mão cheia de nada.
Se estamos bem financeiramente, que se explique a imediata necessidade de vender os maiores ativos do clube com menos de 6 meses de futebol profissional. Se temos a hegemonia do futebol português, então o que terá o Bayern de Munique e a Juventus? Por último, senhor presidente, percebo que seja mais do seu interesse participar em torneio de verão ou abrir escolas de futebol na China, mas internacionalizar o Benfica, ou a “marca” como o senhor prefere, é ter participações dignas nas competições europeias porque são essas que fizeram do clube aquilo que é hoje, não foi o centro de estágios do Seixal.
Em outubro, quando estiverem a votar, sejam do Benfica e não da marca. O candidato de sonho não vai surgir do nevoeiro, qual D. Sebastião, mas há quem já tenha tido coragem de romper com o que se passa lá dentro e que seja mil vezes mais benfiquista do que quem nos representa neste momento. Em tempos destes, é preciso coragem. Quando estiverem com o boletim de voto à vossa frente, votem pelo Benfica.
▶ Texto enviado pelo benfiquista Duarte Chastre.
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