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Medo de ser feliz — uma fobia que não percebo

Ao longo de mais de um século, os feitos do Sport Lisboa e Benfica foram determinantes para a sua afirmação como um dos maiores clubes do Mundo. Títulos fantásticos, dias e noites inesquecíveis, momentos magníficos. Mas também algo mais. Detalhes que tornam este Clube único e que materializam o querer e a vontade dos Homens que lhe dedicaram horas de entrega sem limites. Um conjunto de valores que faz corar de inveja qualquer instituição.


Saudosa década de 60. São poucos os benfiquistas que não se arrepiam. Com Maurício Vieira de Brito na presidência e com Béla Guttmann no comando técnico, o Benfica sagrou-se bicampeão da Taça dos Campeões Europeus. Não um David que venceu um Golias, mas um Golias que se fez valer da sua grandeza. Que derrubou o Real Madrid e o Barcelona, outros dos Golias da época. A surpresa das surpresas: em 1963, Maurício Vieira de Brito deixou a presidência do clube. “Que miséria terão sido os anos seguintes”, dirão os que não estão por dentro do que veio a acontecer. Foi a Fezas Vital, o sucessor, que coube a difícil tarefa de dar continuidade à glória que até então havia pautado a História do clube. Adivinhe-se: a mudança, que muitos julgam ser um “bicho papão”, não beliscou nem um pouco a força dominante do Clube. Como teria sido se Brito continuasse, não sabemos. Sabemos, isso sim, que é difícil encontrar um benfiquista que se arrependa da troca. 


Compreendo alguém que, do alto de um arranha-céus, desate num chinfrim desenfreado. Ou alguém que, à deriva no oceano, seja tomado pelo pânico. No limite, alguém que se sinta acobardado antes de um discurso frente a uma grande plateia. Perdoem-me, caros leitores, mas a fobia às alternativas é uma patologia que não percebo. Como ter medo de algo que: i) fomenta a diversidade de ideias e um escrutínio maior; ii) oferece novas propostas, formas de gestão e abordagens; iii) leva a que a direção em funções tenda a ser mais transparente nas suas decisões; iv) conduz a que mais sócios e mais adeptos se vejam envolvidos no processo eleitoral e na vida do clube. Para os alternativofóbicos, tenho a dizer que concordo se disserem que a mudança por si só não garante o sucesso. Mas, por amor de Deus, reconheçam que o simples ato de alguém acenar com um plano viável e eficiente pode ajudar o Clube a longo prazo.


Sem expulsarem da mente os parágrafos anteriores, reflitam sobre este acontecimento. No sábado passado, a meio de uma entrevista, João Diogo Manteigas foi interrompido, enxovalhado e banhado em cerveja por alguns adeptos. Não sabemos para onde vamos. Muito menos para onde queremos ir. Mas alguns benfiquistas encontraram racionalidade em atentar contra alguém que diz saber o que fazer para nos levar a algum lado. 


Desassociem a ideia de mudança da figura do “bicho papão”. Cuidem da democracia no Benfica. Não atormentem quem surge com ideias diferentes, apenas por serem… diferentes. Por favor, não tenham medo de serem felizes - não o fomos na década de 60?


▶ Texto enviado pelo benfiquista Gil Lourenço Ferreira


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NOTA: A opinião aqui transmitida é da inteira responsabilidade do seu autor e não representa, necessariamente, a opinião do Benfica Independente.

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Guest
Sep 25

Apenas uma pequena correcção. O Engenheiro Mauricio Vieira de Brito deixou a presidencia do clube em 1962 e não em 1963.

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