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Não podemos ter preferências quando já não preferimos nada



Lembro-me como se tivesse sido ontem. Uma espécie de prenda de mim para mim: juntei uns cacarecos, escolhi um restaurante chique e reservei uma mesa. Lá chegado, todo pimpão, pedi a ementa e olhei para as opções que tinha à disposição. Algumas descartei imediatamente - quando falei em cacarecos, era mesmo a sério. Outras, foi o meu paladar que tratou de excluir. Parte das que me pareciam agradáveis, disse-me o empregado que já não as tinham. Pois bem, acabei por comer um bitoque.  


Início de setembro. Há pouco mais de uma semana, o treinador que iniciou a época foi posto a andar. Há uns dias, saiu um relatório de contas que mostra que o Clube não está com a saúde financeira que outrora lhe vimos. A um ano das eleições - falta isso tudo? -, “mudança" é a palavra que mais tem saído da boca dos benfiquistas. Vou fazer os possíveis para que a contratação de Bruno Lage não pareça mais um prego no caixão.


O que pretendo não é transformar a realidade num conto de fadas; é sim colorir tanto quanto puder o mundo cinzento que vem agarrado à enxurrada de más notícias ligadas ao Benfica. Pensem comigo. E metam-se no lugar do treinador que recebeu uma proposta de um Clube: i) que leva já cinco pontos de desvantagem para o primeiro lugar; ii) cujo plantel vem sendo alvo de constantes remodelações que têm o dedo de um outro treinador; iii) que atravessa uma das situações financeiras menos saudáveis dos últimos tempos; iv) cuja direção corre o sério risco de não ver renovado o seu poder nas eleições do próximo ano. 


A verdade é só uma e dela não podemos fugir: neste momento, o Benfica não é apetecível e para o lugar de treinador sobram poucos. Menos ainda se considerarmos que a direção nunca daria a um treinador de recurso um contrato que excedesse o seu próprio tempo no poder. Aos melhores dos melhores não interessa. Os muito bons estão ocupados. Os bons não se querem queimar. Os mais ou menos não servem. O resto… é o resto. Dessa lista, calhou-nos Bruno Lage: um treinador que não é perfeito, que não seria a escolha da maioria, mas que conhece a casa e que sabe o que é ser campeão quando já parece impossível pensar em festejos. 


Há quem nunca mais tenha ouvido falar dele. Quem julgue que ele desapareceu, reapareceu e está pronto para nos resgatar do buraco em que nos metemos. Não dedico este texto a essas pessoas. O apelo que faço vai para os demais: libertem a memória daquilo que Lage fez lá fora e preencham esse espaço com as coisas boas que ele fez cá dentro. Desde a recuperação de sete pontos e consequente conquista do campeonato, à forte e bem sucedida aposta nos miúdos do Seixal ou à goleada frente ao Sporting na Supertaça. Entre outros, alguns dos momentos que nunca esqueceremos. Será impossível olhar para esta contratação com um esgar de esperança?

Não é Leitão da Bairrada, Alheira de Mirandela, Arroz de Marisco ou Cozido à Portuguesa, mas é a refeição possível. E para um bitoque, não está com mau aspeto. Tenhamos consciência: não podemos ter preferências quando já não podemos preferir nada. 


▶ Texto enviado pelo benfiquista Gil Lourenço Ferreira


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NOTA: A opinião aqui transmitida é da inteira responsabilidade do seu autor e não representa, necessariamente, a opinião do Benfica Independente.

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