Nos últimos tempos, os adeptos do Benfica têm sentido na pele o peso de uma onda. Não uma onda de entusiasmo, mas uma verdadeira tempestade de críticas e mal-entendidos. Por querer mais, somos muitas vezes apelidados de exigentes, de desestabilizadores, de ingratos. Contudo, eu pergunto: será que somos nós que estamos a remar contra a maré, ou será a estrutura que nos empurra para o comodismo? No domingo passado, com uma vitória expressiva de 4-1, voltámos a sentir aquele orgulho que define o ser Benfiquista. Mas será que noites como essa deviam ser um luxo? Será que temos de esperar anos por uma exibição digna da nossa história?
Muito se fala sobre a estrutura do Benfica, elogiando a sua organização e o seu modelo de gestão. No entanto, pergunto-me se esta mesma estrutura não se terá tornado refém do seu próprio conforto. Temos uma direção que preza pela estabilidade, mas será que esta estabilidade não se transformou em complacência?
Viver do passado é um erro que muitos clubes cometem, mas esquecer o que nos tornou grandes é ainda pior. Não queremos apenas resultados pontuais, queremos consistência, queremos que cada jogo seja uma reafirmação da nossa identidade. A vitória esmagadora do último domingo foi uma amostra do que podemos ser, mas é frustrante perceber que esses momentos são esporádicos e não a norma. Porque é que não podemos ter mais noites assim? A resposta pode residir no facto de que muitos se contentam com o mínimo, aceitando a narrativa de que "já foi melhor do que o esperado". E é contra esta mentalidade que nos insurgimos.
Somos muitas vezes incompreendidos quando pedimos mais. Mas exigir mudança não significa desejar o insucesso do clube. Pelo contrário, é exatamente por amar o Benfica que queremos vê-lo regressar ao seu esplendor. A exigência é, afinal, um dos pilares que construíram a grandeza do clube. E é precisamente essa exigência que queremos ver espelhada nos nossos jogadores e dirigentes.
Quando criticamos exibições como a contra o Bayern de Munique, na Liga dos Campeões, não estamos a atacar o clube, mas sim a relembrar que o Benfica deve honrar o seu emblema em todos os palcos, independentemente da dificuldade do adversário. As derrotas fazem parte do desporto, mas há uma forma digna de perder, uma forma que demonstra respeito pelos adeptos, pela história e pelos valores que definem o Benfica. Não se trata de ganhar sempre, mas de lutar sempre, de fazer frente a qualquer adversário sem baixar a cabeça.
O Benfica foi construído por homens e mulheres que nunca aceitaram o segundo lugar como suficiente. Foram décadas de glória, fruto de uma mentalidade vencedora que não tolerava o conformismo. Ao longo dos anos, fomos perdendo um pouco dessa essência, e talvez seja essa a razão pela qual muitos adeptos, como eu, continuam a pedir mais. Quando falamos em exigência, não estamos a falar em vitórias imediatas ou em investimentos desmesurados. Estamos a falar em recuperar a nossa alma, em fazer com que cada jogador que vista o Manto Sagrado entenda que não está a representar apenas um clube, mas uma nação de adeptos que nunca deixa de acreditar.
Quero ver um Benfica que não precise de justificações para as derrotas, mas sim que encontre motivos para vencer. Quero um Benfica que assuma a sua grandeza, que seja temido nos campos nacionais e internacionais, não por arrogância, mas pela qualidade que coloca em cada jogo. A exigência que temos é uma forma de respeito para com aqueles que construíram o Benfica que conhecemos. Não é saudosismo, é um compromisso com o futuro.
Muitos confundem a crítica construtiva com destrutiva, mas o verdadeiro Benfiquista sabe que criticar não é trair. É, antes de mais, querer que o clube alcance o seu máximo potencial. Temos a responsabilidade de não nos contentarmos com o medíocre, de não aceitar a mediocridade como normal. Porque ser do Benfica é, acima de tudo, acreditar que é possível fazer melhor, que é possível voltar a assustar os grandes da Europa.
Quando digo que quero mais noites como a de domingo, não é um capricho. É um apelo para que todos, dos adeptos aos dirigentes, elevem o nível de exigência. Para que não aceitemos derrotas humilhantes como "normais" e para que lutemos por um Benfica que honre o seu legado. Somos grandes, mas podemos ser ainda maiores. E para isso, é preciso mais do que comodismo — é preciso coragem, ambição e, sobretudo, respeito pela nossa história.
Porque, no fundo, não queremos todos isto?
▶ Texto enviado pelo benfiquista Bernardo Quialheiro.
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