– HO HO HO! Feliz Verão 2019!
– Oh diacho… estás com os copos, Pai Natal?
– Pshh cala-te e liga aí na FC Porto TV.
A eliminação do FC Porto da Liga dos Campeões foi amarga para os portistas numa multitude de aspectos, mas sobretudo num: beneficiaram o seu maior rival.
É certo e sabido que para a nação azul e branca as vitórias não têm o mesmo sabor se não forem apimentadas por desaires benfiquistas. E, nesse contexto, o inverso é o pior de todos os males: pior que uma derrota, só mesmo uma derrota que favoreça o seu ódio de estimação. Fora a humilhação própria de uma eliminação às custas de um clube que não trouxe o seu melhor jogador e cujo treinador, com apenas 35 anos, transitou das reservas na época passada (paralelismos com Lage é pura especulação), os “dragões” deram folga às renas e trouxeram no sapatinho para o Benfica a subida de potes no sorteio da fase de grupos. Foi de uma generosidade imensurável, já que nem esperaram pela próxima fase para trazer um sorriso às hostes encarnadas.
Para que tal acontecesse, o Benfica precisava que ou o FC Porto ou o Ajax fossem eliminados na 3ª pré eliminatória ou playoff de acesso à competição. Com este desaire portista, o Benfica evita (desde já) Real Madrid, Atlético de Madrid, Borussia Dortmund, Nápoles, Shakhtar Donetsk e Tottenham (finalista na última edição) no sorteio de grupos.
Mas como diria Alexandre Herculano (não percam tempo a procurá-lo no Transfermarkt), “a ingratidão é o mais horrendo de todos os pecados”, e assim sendo há que agradecer uma vez mais a Pinto da Costa e Sérgio Conceição. É que esses "mãos largas" encomendaram outra prenda antecipada ao clube encarnado: a totalidade do valor relativo aos direitos televisivos da UEFA. O Benfica, que já garantia 42,95 milhões pelo acesso à fase de grupos, recebe agora mais €1,11M (num total de 44,06 milhões de euros) do “market pool”, onde a UEFA distribui (proporcionalmente ao valor dos países) um total de 292 milhões de euros pelos 32 clubes.
Sendo a única equipa portuguesa em prova, o Benfica receberá os 100% destinados a clubes portugueses. A título de curiosidade, a UEFA faz o mesmo com a Liga Europa, onde caso Sporting de Braga e Vitória de Guimarães se qualifiquem, o valor atribuído a Portugal para esta competição terá de ser dividido pelos 4 emblemas portugueses em prova. Ou seja, ainda menos dinheiro é atribuído a cada um dos clubes nacionais. Ho Ho Ho!
Para além destes valores, acrescem as vendas de Rony Lopes (para o Sevilha) e Rodrigo (hipoteticamente para o Atlético de Madrid), que podem trazer aos cofres encarnados mais €1,15M, prevendo-se um encaixe total de €45,21M. Muito dinheiro sem sair do sofá.
Financeiramente, o Benfica vê-se assim perante uma oportunidade única para consolidar o seu domínio competitivo no panorama nacional. Há quem inclusive sugira que a ambição benfiquista poderia ser maior, isto é, pensar a nível externo (algo que já debati no artigo “O Projecto Europeu do Benfica”.
Mas perante as últimas declarações de Domingos Soares de Oliveira, fica claro que essa aspiração não tem fundamento. O Benfica, a par de Barcelona, Bayern de Munique e Real Madrid, é uma de apenas quatro equipas com presença ininterrupta nas 10 edições mais recentes da Liga dos Campeões. Esta assiduidade atrai novo talento ao clube, que vê com bons olhos ingressar numa equipa que constantemente se mostra no maior palco do futebol europeu (temos pena, Nakajima). Mas, por força do poderio económico de outras ligas, esse talento nunca é de nível mundial, também por culpa da pouca competitividade da nossa liga (“pouco atraente”, como foi aliás mencionado pelo administrador executivo da Benfica SAD). Acresce que a direcção do Benfica também não vê com bons olhos remunerações excessivas que levariam a uma discrepância de salários no plantel (onde jogadores ganham muito mais que outros).
Se por um lado isto faz algum sentido em termos de ambiente no balneário, por outro é incompreensível usar esta argumentação como único método de atrair (financeiramente) jogadores ao clube. Até porque denota alguma falta de imaginação relativamente aos mecanismos financeiros que podem ser usados para convencer bons jogadores a representarem as cores encarnadas.
De qualquer modo, é importante que se entenda que após o sucesso da International Champions Cup, o Benfica quer continuar a marcar presença entre a elite do futebol mundial por vários motivos: seja pelo encaixe financeiro, pela tão desejada internacionalização da marca, ou pela “sobrevivência” na já aguardada revolução das competições internacionais de clubes. Para que tal aconteça, não pode estar continuamente à espera que os rivais lhe entreguem craques de mão beijada (obrigado Pinto da Costa) ou cheques de €45M (obrigado Sérgio Conceição). Há que demonstrar mais ambição, e isso implica inevitavelmente abrir cordões à bolsa.
Num ano em que o clube espera receber uma receita recorde, muitos dos adeptos questionam-se como irá o Benfica aplicar esta pequena fortuna que entrou nas contas da Luz. É que até ver, estes milhões servem única e exclusivamente para uma coisa: mais quartos no Seixal. E não é à toa que este é já um dos 8 concelhos mais populosos de Portugal…
Texto enviado pelo benfiquista Carlos R.
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