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Novo timoneiro no andebol - e agora?


Há uns meses atrás, após a participação da selecção nacional no EHF Euro 2020, escrevi aqui um artigo no qual falei sobre as coisas que eram necessárias para fazer a secção de andebol do Benfica entrar nos eixos. Por muita coincidência, poucos dias após escrever esse artigo surgiu a notícia de que o Benfica estava em conversações com o espanhol Chema Rodríguez para substituir Carlos Resende no comando técnico da equipa de andebol. Na última quarta-feira, o vice-presidente das Modalidades do Benfica Domingos Almeida confirmou que Chema Rodríguez será o técnico de andebol dos encarnados na próxima época.


Ora, aquando da chegada de Carlos Resende ao Benfica em 2017, o sentimento geral dos benfiquistas que acompanhavam a modalidade era de que este seria o homem que ia recolocar o andebol do Benfica na rota do sucesso. E agora, passados três anos, essas expectativas seriam completamente defraudadas, gerando um sentimento de tristeza e desilusão nos adeptos encarnados.


Como aqui cheguei aqui a mencionar no artigo anterior, na minha opinião, o projecto de Carlos Resende para o Benfica falhou por três motivos:

Primeiro, porque Carlos Resende quis fazer do Benfica uma espécie de "ABC de Lisboa", ou seja, quis construir uma equipa com uma espinha dorsal portuguesa (entre os miúdos da formação e os jogadores que trouxe do ABC), achando que tal seria suficiente para lutar pelo título.

Segundo, porque o clube se mostrou completamente incapaz de assegurar as maiores promessas do andebol nacional , como os casos de André Gomes e Luís Frade, que viriam a rumar para os clubes rivais.

Terceiro, porque nas três épocas em que treinou o Benfica, Carlos Resende nunca teve uma noção real do que é a dimensão e a realidade do clube e consequentemente, não foi capaz de incutir aos jogadores o grau de exigência necessário para singrar neste clube.


Após o anúncio oficial da uma saída há cerca de duas semanas, Carlos Resende não teve qualquer problema em assumir que falhou em cumprir os objectivos propostos, mostrando ser um homem com H grande e com um carácter inabalável. E apesar das coisas não terem corrido bem, continuarei a ter muita consideração por Carlos Resende pela referência que é na modalidade e pela sua postura e forma de estar no desporto.


E agora, quem é Chema Rodriguez?

Chema Rodriguez é dos grandes nomes do andebol mundial neste século. Como jogador, representou clubes como o Atlético Valladolid, o BM Ciudad Real e o Telekom Veszprem, tendo conquistado vários campeonatos e Taças em Espanha e na Hungria, duas EHF Champions League e ainda se sagrou campeão mundial pela selecção espanhola em 2005.


Como treinador, iniciou a sua carreira como adjunto de István Gulyás na selecção da Hungria, desempenhando também o papel de jogador/treinador-adjunto no clube onde jogava até ao cancelamento do campeonato, o Saran da 2ª divisão francesa.


No entanto, seria no Europeu realizado em Janeiro deste ano que Chema Rodríguez dar-se-ia a conhecer a partir do banco. Apesar da Hungria ser uma potência do andebol mundial, a selecção magiar apresentou-se na competição com uma equipa em renovação, tendo eliminado a Dinamarca na primeira fase, derrotado a Eslovénia e a Islândia na Main Round, e só mesmo a derrota contra a selecção portuguesa os afastou das meias-finais.


Porém, Chema Rodríguez ainda é um treinador em início de carreira e que irá cumprir a sua primeira experiência como treinador principal. Portanto, esta é uma aposta de risco, visto que aquilo que o espanhol vale enquanto treinador é neste momento uma incógnita.


Voltando um pouco atrás no tempo, nesta temporada, bastou-me ver o primeiro jogo oficial contra um adversário directo (recepção ao Sporting em Setembro) para perceber que Carlos Resende não estava mais a altura das exigências. Nessa altura, rapidamente me apercebi que o Benfica precisava de um treinador com um perfil idêntico ao de Magnus Andersson e Thierry Anti: alguém com grande experiência a nível internacional e que seja capaz de implementar novas ideias e métodos de treino.


Quanto a Chema Rodríguez, a incógnita resume-se sobretudo ao segundo requisito. Enquanto jogador, experiência internacional é coisa que não lhe falta. E isso por si só, pode trazer vantagens que podem ser benéficas para o Benfica.


Primeiro que tudo, já têm sido vários os jogadores que têm sido apontados à equipa de andebol. Todos estes jogadores (sobre os quais falarei num artigo futuro), dão a entender que Chema Rodríguez tem uma extensa rede de contactos. Já tenho vindo aqui a defender que o andebol do Benfica deveria reestruturar o seu scouting e um treinador com este requisito pode ser um passo dado nesse sentido.


Segundo, os acompanhantes da modalidade sabem que nesta momento, a Espanha tem provavelmente, a melhor escola de treinadores do mundo na modalidade. Só para se ter uma ideia, as quatro equipas que chegaram à Final Four da Champions na época passada eram todas treinadas por treinadores espanhóis. Quatro das últimas cinco equipas campeãs europeias também eram treinadas por espanhóis. No Europeu realizado neste anos, 7 das 24 selecções participantes também tinham seleccionadores de origem hispânica.

Para terem uma melhor ideia da influência e da popularidade dos treinadores espanhóis no andebol mundial, segue aqui um artigo da MARCA a falar sobre o assunto:



Não sabemos que ideias Chema Rodríguez irá trazer ao andebol do Benfica. No entanto, o facto dele vir de uma realidade competitiva muito diferente, poderá implementar uma outra mentalidade no andebol encarnado em termos de exigência e de cultura de trabalho.


Se formos pegar nos exemplos dos dois melhores treinadores da história do andebol do Benfica (Eugene Trofin e Aleksander Donner), ambos eram conhecidos por serem treinadores bastante exigentes e rigorosos, tanto a nível do treino, como a nível mental. E essa exigência natural poderá ser determinante para os jogadores poderem mostrar o que valem.


Nas entrevistas a antigas figuras do andebol do Benfica no Benfica de Quarentena, vários deles fizerem referência ao facto de nos últimos anos, o Benfica ter contratado vários andebolistas reputados a nível nacional e internacional que não viriam a fazer a diferença que se esperava. A meu entender, isto pode acontecer por dois motivos: ou pelo simples facto do jogador não suportar o peso da camisola (e há quem diga que a camisola do Benfica pesa 40 Kg), ou por mera falta de compromisso do próprio jogador, que muitas vezes também é causada pela falta de liderança da estrutura.


Chema Rodríguez ainda não tem o perfil que eu defendia que o andebol do Benfica deveria ter. No entanto, também entendo que, se o Benfica neste momento nem sequer consegue competir com os rivais, também fica mais difícil para o clube conseguir atrair um treinador com esse estatuto. Assim, em vez de gastar uma fortuna num treinador de topo, apostou num treinador em início de carreira, com experiência internacional como jogador e vindo de uma escola de topo, que tem potencial para ter o perfil pretendido.


Outra coisa que acho essencial face a esta mudança, é que Chema Rodríguez tenha na sua equipa técnica um adjunto português e que conheça bem o campeonato. À imagem do que se sucede no FC Porto com Carlos Martingo e no Sporting com Rui Silva, acho muito importante que Chema Rodríguez tenha um braço direito que o possa ajudar a preparar os jogos e a adaptar-se à nossa realidade.


No meio disto tudo, qual é a moral da história? Neste Momento, ainda é impossível para qualquer adepto dar garantias de que Chema Rodríguez é o treinador de que o andebol do Benfica precisa. Ainda existem muitos pontos de interrogação à sua volta e só com tempo e paciência é que teremos as respostas que queremos obter.

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