▶ Texto enviado pelo benfiquista Francisco Torgal
Queres publicar um texto no nosso site? Envia por email ou pelo formulário do site.
NOTA: A opinião aqui transmitida é da inteira responsabilidade do seu autor e não representa, necessariamente, a opinião do Benfica Independente.
O emblema do Sport Lisboa e Benfica, conforme descrito no seu portal oficial, constitui, sem qualquer sombra de dúvida, “a sua imagem de marca. Tal como a maior parte das tradições e símbolos do Clube, o emblema foi elaborado entre 13 de dezembro de 1903, quando surgiu a ideia de criar o Clube, e a data da sua fundação, a 28 de fevereiro de 1904. O tom, a vivacidade e a alegria da cor das suas camisolas, a águia como símbolo da sua independência, autoridade e nobreza, uma roda de bicicleta que representa o ciclismo como uma das primeiras modalidades do clube, a bola de futebol e a legenda de união e força conjunta - E Pluribus Unum (de todos um). Eis o nosso símbolo que tem deixado marca em Portugal e no mundo.”
A preservação das cores originais de um clube nos seus equipamentos desportivos reveste-se de um papel absolutamente essencial na perpetuação da sua identidade e no respeito pela sua história. Num contexto desportivo em que as tendências modernas e as pressões comerciais ganham cada vez maior expressão – por mais compreensíveis que estas possam ser – torna-se indispensável que os clubes saibam equilibrar a inovação com a reverência pelas tradições que constituem o alicerce da sua existência. As cores de um clube transcendem em muito a mera função estética; são um símbolo dos valores, da cultura e da essência que o tornam único, promovendo uma ligação emocional indissolúvel com os seus adeptos. Cada tonalidade, símbolo e pormenor presente nos equipamentos narra uma história. No caso do Sport Lisboa e Benfica, as icónicas camisolas vermelhas e brancas são fruto de escolhas meticulosas realizadas pelos seus fundadores. José da Cruz Viegas, beneficiando de acesso a catálogos britânicos de tecidos, optou pelo vermelho, uma cor que não só se destacava em campo, mas que também deixava uma impressão duradoura nos jogadores e adeptos. Por sua vez, Cândido Rosa Rodrigues, outro fundador, defendeu que as cores deviam captar a atenção dos transeuntes, uma vez que o clube jogava frequentemente em locais públicos. O vermelho foi adotado por evocar alegria, dinamismo e entusiasmo, enquanto os calções brancos tiveram como referência o Belem Football Club. Ainda que fundamentadas em critérios práticos, estas escolhas cromáticas passaram a corporizar ideais e princípios que, ao longo das décadas, se tornaram um património inalienável do clube.
A continuidade das cores originais nos equipamentos desportivos é, igualmente, uma homenagem a todos aqueles que, ao longo da história, contribuíram para moldar a identidade do clube. Conforme é frequentemente evocado pelos benfiquistas, estas cores representam “os ases que nos honraram o passado.” Desde os pioneiros até aos atletas e associados que inscreveram o seu nome na história do clube, as cores simbolizam uma ponte intergeracional que preserva as memórias de vitórias e sacrifícios que definiram o percurso do Sport Lisboa e Benfica. Esta lealdade às cores fundadoras garante que tanto os adeptos veteranos como as gerações vindouras reconheçam, nos equipamentos, os valores que sempre sustentaram o clube, mantendo viva a chama da sua tradição e os pilares da sua existência.
Por outro lado, a inevitável modernização do desporto e as exigências de inovação levaram muitos clubes a introduzir variações nos seus equipamentos, particularmente nos alternativos e nos terceiros kits. Embora estas inovações sejam cruciais para atrair novos públicos e manterem a relevância no panorama da moda desportiva, é imperativo que o equipamento principal – e, idealmente, também o alternativo – permaneçam fiéis às cores originais. Este compromisso com a tradição não impede a evolução, mas antes estabelece um elo indelével entre o passado e o progresso contemporâneo, assegurando que as novas gerações vejam refletidos nos equipamentos os mesmos valores e símbolos que inspiraram os seus antecessores.
Além disso, as cores originais são uma forma imediata de identificação, não apenas para os adeptos, mas também para o próprio clube no panorama desportivo internacional. Num estádio ou numa competição global, as cores de um clube constituem a sua bandeira, a primeira e mais evidente manifestação da sua singularidade face aos concorrentes. A preservação destas cores traduz um respeito pelas raízes do clube, reforçando a sua coesão e projetando uma imagem de continuidade histórica enquanto se projeta para o futuro.
Em síntese, as cores fundadoras de um clube transcendem qualquer interpretação meramente estética; elas constituem um elemento central da sua alma e legado. Respeitar estas cores nos equipamentos é salvaguardar a identidade do clube face às pressões e transformações contemporâneas, permanecendo fiel aos valores que o sustentaram desde a sua génese. Desta forma, o clube não só honra o seu passado, como fortalece a sua ligação aos adeptos, garantindo que as futuras gerações continuem a encontrar nos equipamentos os mesmos valores e tradições que cimentaram o seu património.
No que respeita à revisão estatutária apresentada na Assembleia Geral Extraordinária, realizada a 21 de setembro no Pavilhão da Luz, foi amplamente debatida e aprovada uma proposta que submeti, a qual foi desenvolvida com base nos contributos de diversos sócios ao longo dos anos. Esta proposta visou regulamentar aspetos dos equipamentos do Sport Lisboa e Benfica e do seu emblema.
De acordo com os futuros estatutos vigentes, a proposta estabelece que o equipamento principal do Benfica mantenha o vermelho como cor predominante, complementado por detalhes em branco, admitindo, de forma limitada e pontual, a inclusão de outras tonalidades, como o preto, exemplificado pelo equipamento da época 2013/14. Introduziu-se, contudo, a obrigatoriedade de que o equipamento alternativo apresente sempre uma base branca, complementada preferencialmente por detalhes em vermelho, sem excluir a possibilidade de utilização de outras cores, como o preto, desde que o seu uso seja criterioso e em consonância com a tradição visual do clube. Esta abordagem visa harmonizar modernidade e respeito pelas raízes históricas.
Quanto ao terceiro equipamento, mantêm-se as diretrizes aplicadas nos últimos anos. Este equipamento, concebido como uma “tela criativa” para a marca Adidas, não está sujeito a restrições cromáticas, permitindo liberdade criativa para refletir tendências da moda desportiva contemporânea. A sua versatilidade assegura que este vestuário seja não apenas uma peça desportiva, mas também um elemento do quotidiano dos adeptos, conciliando funcionalidade e inovação.
Uma mudança significativa introduzida nesta revisão estatutária foi a obrigatoriedade de utilização do emblema original, a cores, em todos os equipamentos. Na proposta inicial, esta exigência limitava-se ao equipamento principal e ao alternativo, de forma a preservar a identidade visual nesses dois conjuntos. Contudo, após um debate alargado na Assembleia Geral e face ao feedback recebido dos sócios, ficou claro que a maioria dos associados defendia a utilização do emblema original a cores também no terceiro equipamento. Esta alteração foi aprovada com mais de 80% dos votos favoráveis. Assim, elimina-se a possibilidade de utilização de versões monocromáticas ou modificadas do emblema nos equipamentos de jogo. Estas variantes serão permitidas apenas em vestuário não destinado a competição, como equipamentos de treino, polos ou merchandising.
Com estas disposições, o Sport Lisboa e Benfica reafirma o seu compromisso com a preservação da identidade histórica, garantindo que os seus equipamentos continuem a refletir, com rigor, os valores e o legado que definem o clube.
Comments