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O projecto do Benfica não admite regressos?

A 12 de Dezembro do ano passado, o jornal A Bola faz capa com Nico Gaitán, e sobre um hipotético regresso ao clube encarnado.

No dia seguinte, na conferência de imprensa de antevisão do jogo com o Famalicão, Bruno Lage reage deste modo à possibilidade de Gaitán voltar a vestir as cores do clube:

«Neste momento é encontrar jogadores como o Gaitán ou o Salvio com a idade com que chegaram cá. Não deixa de ser um jogador interessante, mas o projecto do Benfica leva-nos a olhar para outros jogadores.»


Nico Gaitán tem 31 anos e era um jogador livre nesta altura. Na semana passada, ingressou no Lille, 4.º classificado da Ligue 1, onde milita igualmente Renato Sanches.

Renato Sanches que, curiosamente, faz capa na edição de Domingo do jornal Record, afirmando que em Portugal só joga no Benfica. E remata: «Quis regressar e falei com Rui Costa e Vieira, mas não aconteceu. Não sei o que se passou.»


A ser verdade, como interpretar esta atitude da direcção benfiquista em recusar o regresso de jogadores que já pertenceram aos nossos quadros e manifestamente gostam do clube? Talvez as declarações do treinador ajudem a perceber. Ou talvez não.

As palavras de Bruno Lage no final do ano passado foram ambíguas. Ao referir-se às idades de Gaitán (e Salvio), subentende-se que o Benfica procura apostar em jogadores mais novos para os rentabilizar num futuro próximo. Mas só especificamente na posição de extremo? Assumo que não, visto que os dois jogadores mais velhos que o Benfica contratou esta temporada (Caio Lucas e Yony González) jogam exactamente nessa posição. E se a interpretação for correcta, e o Benfica estiver de facto apenas interessado em jogadores mais novos, então a análise destas declarações fica ainda mais complicada à luz das contratações efectuadas no mercado de Inverno.


Weigl (talento indiscutível) veio para o Benfica, custando €20M. Tem 24 anos. Renato Sanches é dois anos mais novo, e foi para o Lille pelos mesmos valores.

Dyego Sousa veio para o Benfica a título de empréstimo, e tem 30 anos. Gaitán tem mais um ano, e seguiu para o Lille a custo zero.


Ninguém está a pôr em causa o valor destes jogadores que o Benfica trouxe, que me parece inegável. Ninguém está a questionar se o Benfica deveria ter mais opções no plantel para determinadas posições que estes jogadores vieram colmatar. Não. O problema aqui é a falta de coerência na argumentação usada para bloquear o regresso de jogadores que gostam do Benfica e que dizem muito aos benfiquistas. E talvez por isso a direcção do clube, antevendo que poderia antagonizar os associados e adeptos se fosse mais transparente nesta matéria, prefira usar subterfúgios através do seu treinador.


A minha opinião sobre se o Renato ou o Gaitán deveriam voltar ao clube é irrelevante. Ou se deveríamos fechar as portas a todos os jogadores que ultrapassassem determinada idade (temos pena, Jonas!). Mais importante é tentar entender porque razão estão impedidos de regressar jogadores ao clube, mas sobretudo porque é que se inventam desculpas para esconder essa filosofia. É que até ver, o “projecto do Benfica” parece bastante claro neste ponto. O que acaba por ser trágico quando ouvimos jogadores como Bernardo Silva e João Félix a manifestarem o seu desejo de um dia voltarem a vestir as cores do clube.


▶ Texto enviado pelo benfiquista Carlos R.

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