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O silêncio que se exige

Foto do escritor: C. RebeloC. Rebelo

O respeito está reservado a quem o merece. Há quem nunca irá entender isto, e venha com a mesma lengalenga das vitórias, dos títulos, sem perceber que outros que também nos derrotaram em campo sempre tiveram a nossa admiração.



 


Pinto da Costa é o maior símbolo do FC Porto. Ninguém mais na história daquele clube, desde a sua fundação em 1906, teve tanta preponderância como ele na identidade do clube. Após o seu falecimento, vêm agora alguns moralistas (que de algum modo estão/estiveram ligados ao clube), exigir "elevação" de instituições que foram, durante 4 décadas, o principal alvo da máquina de propaganda montada por Pinto da Costa, e que foram vezes sem fim prejudicadas para atingir os seus objectivos.



"O nosso inimigo está a 300 kms", no evento 'Dia do Clube' (2023).


Parte desses objectivos era conquistar títulos a qualquer custo. Para tal, normalizou-se a intimidação a árbitros, a adversários, a jornalistas, e a demais elementos ligados ao futebol. Aliás, intimidou inclusive adeptos e rivais dentro do seu próprio clube! Na sua tomada de posse em 1982 dava já o mote: "Lisboa não pode continuar a colonizar o resto do país. O desejo deles é que o FC Porto desça de divisão." Quem diria que, 40 anos volvidos, o discurso ainda não tivesse mudado?


"Para Portugal é muito importante ter um FC Porto forte porque, infelizmente, é um dos poucos baluartes do Norte que resiste ao centralismo", Pinto da Costa na tomada de posse para o seu último mandato como presidente do FC Porto (2020)


A vitimização e a retórica do "contra tudo e contra todos" foi a doutrina que usou para facilmente arregimentar hordes de apoiantes. Se formos ao Chat GPT procurar pela principal figura responsável pelo clima de guerrilha e de ódio no futebol português, a inteligência artificial rapidamente irá identificar um único homem. E esse sim, é o principal legado de Jorge Nuno Pinto da Costa, um homem que provou que o futebol não tem tanto a ver com os golos que se marcam, mas com a narrativa que se cria, e com os amigos que se vão fazendo ao longo do caminho.


"Querem-nos matar, mas não vão conseguir. Se nos atacam tanto é porque não nos consideram mortos. Temos de pagar o preço do nosso sucesso.", in Jornal de Notícias. 2016.

Quando comecei a gostar de futebol, os membros da minha família adeptos do FC Porto tentaram-me convencer a ser portista, como eles. Os argumentos eram quase sempre por oposição a um inimigo que lhes queria mal, um centralismo que os impedia de alcançar grandes feitos. O seu apelo era pela negativa. Um dos amigos da família, ex-internacional português e com vasta experiência futebolística, explicou-me aliás que o Benfica nunca iria rivalizar com o FC Porto em termos de mentalidade, porque os miúdos eram incutidos desde crianças a odiarem o Benfica. Este também é o legado de Jorge Nuno Pinto da Costa, o mesmo do "Lisboa a arder" e de várias outras palavras de ordem que levavam os seus adeptos a ultrapassarem vários limites.




"No dia em que não ganhemos nada aí seremos amigos de toda a gente. A partir do momento em que fomos campeões europeus tudo mudou. Os nossos principais inimigos estão na comunicação social. O centralismo de Lisboa é um estado de alma do próprio país.", in TVI (2020)

Pinto da Costa intrometia-se nas escolhas da selecção nacional. Quem o disse foi o próprio Luís Felipe Scolari. Pinto da Costa ia a banhos com árbitros, e fazia saídas à noite com os mesmos. Pinto da Costa combinou com a PSP uma data para as buscas à SAD do FC Porto, com o alto patrocínio do Ministro do Ambiente (Matos Fernandes). Pinto da Costa controlava a arbitragem em Portugal durante vários anos. Pinto da Costa aceitava "empréstimos" de um presidente da SAD de outro clube da Liga, o mesmo clube que nunca ganhou ao FC Porto em 35 anos! Pinto da Costa "negociou" para que a autarquia de Gaia (e seus contribuintes) gastasse 16 milhões de euros a erguer o centro de estágios sem qualquer participação do clube. Pinto da Costa levava à despromoção de árbitros que não beneficiassem o seu clube em campo. Pinto da Costa aprovou o doxing de jornalistas críticos à sua presidência. Depois de acusações de ex-jogadores, Pinto da Costa foi também o presidente de um dos maiores escândalos de doping do desporto nacional (W-52). Pinto da Costa é o presidente de pagamentos a adversários em dias de jogos. Pinto da Costa orquestrou o roubo de e-mails e documentos privados aos rivais, para daí tirar frutos em contratações e ter informações privilegiadas sobre as estratégias dos clubes contra quem competia. Não sou eu quem o diz, são TODOS os tribunais para os quais o FC Porto recorreu, inclusive o Supremo Tribunal de Justiça, que condenou, pela derradeira vez (sem recurso possível) o clube chefiado por Pinto da Costa de roubar e espiar o adversário.


"Quando apoiamos um candidato e ele vence da forma tão clara, é natural que fique satisfeito. (...) Ninguém no mundo do futebol português tem mais prestígio do que Pedro Proença.", Pinto da Costa sobre a 1ª eleição do presidente da LPFP
"Quando apoiamos um candidato e ele vence da forma tão clara, é natural que fique satisfeito. (...) Ninguém no mundo do futebol português tem mais prestígio do que Pedro Proença.", Pinto da Costa sobre a 1ª eleição do presidente da LPFP

Perante estes factos, tenta-se agora uma vez mais manipular a narrativa e criar uma imagem de figura incontornável do futebol nacional. Pinto da Costa, num país sério, estaria atrás das grades. Acrescento: atrás das grades, há já muito tempo, e por vários anos. Isso sim, é a realidade. Mas tal tornou-se impossível para alguém com ligações fortes na política, na polícia, e na justiça portuguesas.


Alfredo Quintana. Fernando Gomes. Atletas do FC Porto que várias vezes nos enfrentaram, e merecem todo o nosso respeito como rivais. De igual modo, outros símbolos do FC Porto que por vezes possam ter cometido excessos e faltado ao respeito ao nosso clube – Pepe, Villas-Boas, João Pinto – também eles terão a devida homenagem pelo Benfica quando falecerem (isto se não resolverem, até lá, fazer alguma parvoíce). Pinto da Costa não entra neste leque. Tentou, por várias vezes, destruir o clube que amo recorrendo a todo o tipo de expedientes. Nunca merecerá o respeito deste benfiquista.


Disse Pinto da Costa, em Março de 2023, a propósito do silêncio a que se autopropôs o então treinador do FC Porto após denúncia da APAF, que "Sérgio Conceição calado fez um bom discurso". Palavras que, dois anos volvidos, podem ser recicladas e usadas para explicar a posição institucional do SL Benfica a todos os falsos moralistas que tanto idolatra(va)m a figura que dominou os bastidores do futebol durante 42 anos.


Não desejei que morresse. Não celebrei a sua doença nem o seu falecimento. Mas não exijam agora hipocrisia.



1 comentário

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1 Comment


Damião
há 3 horas

Tanta palavra gasta com um traste, que tem o seu lugar funesto assegurado na galeria dos execráveis portugueses. Que ninguém se esqueça, medrou com a auto obliteração, ao longo de inúmeras vezes, do estado de direito. Felizmente, o Sport Lisboa e Benfica (e também o Sporting Clube de Portugal) souberam honrar o seu passado e valores. Parabéns, Rui Costa! Não cuspiste na campa do Jorge de Brito.

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