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Foto do escritorIvo Gonçalves

Outra vez arroz (sem tomate)





O clássico do Dragão foi isso mesmo, um clássico. Mas não no sentido de ser um jogo histórico ou bem jogado (muito, muito longe disso). Foi um clássico porque me deu a sensação de estar a ver o mesmo Porto-Benfica que vi em 90% das ocasiões ao longo das minhas 40 primaveras. Teve todos os ingredientes a que estamos habituados:


Casas do Benfica vandalizadas;

“Bem-vindos filhos da puta”;

Bonecos “enforcados”;

Bolas de golfe;

Fogo de artifício nocturno junto ao nosso hotel;

Arbitragem porreirinha para os anfitriões;

Um Benfica sem tomates;

Uma equipa perdida em campo;

Uma derrota.


Acontece que esta derrota dá-se contra uma equipa do Porto que não joga nada, nada, nada. Tirando dois ou três elementos que tratam bem a redondinha, aquela é uma equipa à imagem do grunho do treinador — futebol à bruta, matacão e aditivado pelo factor motivacional preferido naquelas bandas: o ódio ao Benfica.


No que toca à arbitragem, um gajo vai dizer o quê? É tudo tão à descarada que parece que já se tornou normal. É um bocado como as nossas estradas, onde é comum ver animais atropelados e (quase) ninguém liga alguma coisa a isso — é horrível, mas já banal, e portanto nem vale a pena pensar no que se poderia fazer para mudar, não é senhores dirigentes?


Haveria muito para falar, mas há lances que para mim resumem tudo: o Taarabt levou duas solhas na boca, uma pelo Marega (que até admito não se tratar de uma agressão, mas não ser sequer falta é surreal); e uma agressão clara do animal Pepe, que faz o que quer, como quer, e ainda se abraça ao 4º árbitro no final. Em ambos os casos o artista SD estava a poucos metros e com total visibilidade. Já o VAR devia estar ainda a sofrer com hematoma, e nada viu. Num jogo agressivo, a agressividade só vale para um lado, para o outro amarela-se meia equipa nos primeiros minutos e assunto resolvido.


Agora nós


Epá sim, saímos em primeiro lugar. Mas que raio, é suposto darmos como garantido que perdemos sempre com estes gajos? É evidente que o mais importante é sacar o caneco em Maio, e o resto é conversa, mas quando é que começamos a jogar de acordo com o nosso estatuto de maior, mais forte? Tempos houve em que não era assim, mas já lá vão, não? Quantas estocadas finais já podíamos ter dado nestes gajos?


A nossa equipa, em jogos mais agressivos fisicamente, é de uma fragilidade impressionante. A não utilização de Cervi já foi amplamente comentada, e embora eu não seja por norma um fã incondicional do argentino, tenho de concordar que se havia jogo em que as suas características faziam sentido, era este. Porque se são válidas para outros jogos de menor pressão e combate…


Outros pontos negativos: epá o Ferro, pá. Jogo após jogo tem demonstrado estar numa forma absolutamente miserável, perde 90% dos duelos individuais, falha os passes todos e não se consegue impor de forma alguma. Alternativas? Não há, porque temos um super plantel e não precisamos de nos preocupar com questões irrelevantes como a defesa.


Pizzi (craque, sem dúvida) nestas batalhas pura e simplesmente não existe. Nem nos momentos ofensivos, nem nos defensivos. Parece que se esconde do jogo. E o que dizer dos pontapés-de-canto por ele executados?


Na realidade, tirando o enorme Vinicius (que jogador!) e alguns apontamentos de Rafa e Taarabt, ninguém se destacou. Dou algum mérito ao Chiquinho por ter tentado assumir o jogo na segunda parte, ainda que sem resultados práticos.


A falta que Gabriel faz nestes jogos… É certo que fez um mau jogo contra o Famalicão, mas neste tipo de duelos (ver a vitória do ano passado naquele mesmo campo) é absolutamente imprescindível. Porquê? Porque não tem medo de ter a bola, de arriscar passes, e essencialmente… tem tomates. Dá o corpo ao manifesto e não treme no confronto físico.


As conferências de imprensa


Uma nota para as declarações de Bruno Lage. Confesso que estou farto, farto, farto, das dissertações intermináveis sobre moral e bons costumes e da forma como enrola e não responde de forma concreta a algumas questões de carácter táctico.


Dizer que fizemos um bom jogo é só parvo, e acabar a partida com chuveirinho (ainda por cima com cruzamentos ridículos) para Seferovic (pois) e Diego Souza (sem qualquer ritmo), demonstra que na segunda parte estava à nora e sem ideias. Os últimos 20 minutos foram uma anarquia total.


Nota também para o hipócrita Conceição, que quando perde mostra a sua face real e quando ganha dedica a vitória às crianças com cancro.


Em suma…


É continuar a ganhar, e limpar tudo até ao final do ano. Claro está que com a defesa presa por arames não podemos esperar que a nossa carreira na Europa seja gloriosa. Mas pode ser que alguém na super estrutura esteja a preparar um plantel sem tantos buracos para a próxima época.

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