Galeano, o mestre que tirou o futebol da sombra, escrevia que que o “torcedor” joga com a equipa, é o seu número doze, faz parte da equipa.
Por isso, todos dizemos: “Nós jogamos hoje!”
E é esse direito que aqui, perante todos, quero reivindicar.
Deixem-me sonhar.
Lembrei-me de Sophia.
A minha Sophia, a nossa Sophia dos mares de Gaia:
Apesar das ruínas e da morte,
Onde sempre acabou cada ilusão,
A força dos meus sonhos é tão forte,
Que de tudo renasce a exaltação
E nunca as minhas mãos ficam vazias.
Viajei no tempo e encontrei o Senhor Shéu. Em Bruxelas e em Lisboa.
Passei por Estugarda, em maio de 1988, e voltei a ver o que nunca tinha visto – Veloso. Todo de vermelho, camisola, calções e meias.
O orgasmo que Galeano tão bem descreve nos seus textos ficou nas luvas do “goleiro” holandês. Veloso, como todos Nós, chorou naquela noite em que os deuses não quiseram nada com o Benfica
Não demorei a voltar a uma final – Benfica com o Milan dos senhores Gullit, Rijkaard e Van Basten. Corria o ano da graça de 1990, 23 de maio, Viena e o sonho, mais uma vez, ganhava a forma de um pesadelo.
Em três anos, duas finais dos campeões perdidas.
As ilusões que Sophia descrevia acabavam em pesadelos de um jovem adepto Benfiquista a viver no grande Porto.
Não tinha consciência da nossa força, da nossa capacidade de renascer.
Passamos por quase tudo o que era possível e até impossível.
E uns anos depois voltamos aos sonhos.
Duas finais da Liga Europa.
Mais duas ilusões perdidas.
Cinco finais europeias perdidas a juntar a outras que só conhecia dos livros.
Cinco.
Mas, nunca as nossas mãos ficam vazias porque o direito ao sonho ninguém nos tira.
Diz quem sabe que não há pai para o Benfica e eu concordo.
Temos uma capacidade de renascer que ultrapassa tudo o que os trovadores podem descrever, mesmo quando tentam falar de amor.
É muito mais que isso.
É um sonho.
É um sonho porque nunca é real.
No dia a seguir a um sonho conquistado, logo outro toma o seu lugar.
E é apenas isso que venho exigir em nome de todos os adeptos, em nome de todos os jogadores, treinadores e até em nome dos nossos adversários.
O direito a sonhar.
Ir duas vezes a Itália e depois derrotar o grande Real na final de Istambul?
Claro!
É mesmo isso, que ninguém nos tire o direito a sonhar.
Lá, na catedral onde somos todos iguais, onde a união se faz força, lá onde os nossos
“rapazes, com fogo sagrado”,
têm por missão maior, honrar
“agora os ases
Que nos honraram o passado!”
Deixem-nos sonhar porque
A força dos meus sonhos é tão forte,
Que de tudo renasce a exaltação!
▶ Texto enviado pelo benfiquista João Paulo Silva.
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