top of page
leaderboard.gif

Purgatório da Luz

Foto do escritor: Textos enviados p/ benfiquistasTextos enviados p/ benfiquistas

▶ Texto enviado pelo benfiquista Francisco Rodrigues


Queres publicar um texto no nosso site? Envia por email ou pelo formulário do site.


NOTA: A opinião aqui transmitida é da inteira responsabilidade do seu autor e não representa, necessariamente, a opinião do Benfica Independente.


Sou adepto do Benfica há mais de 30 anos, sócio há mais de 15 e portador de Red Pass há uma década. Vivi momentos inesquecíveis, emoções intensas, alegrias e tristezas naquele que é a nossa casa, o Estádio da Luz.


Ultimamente, porém, seja nas vitórias ou nas derrotas, tenho saído do estádio com um vazio crescente. Nas derrotas, a resignação sobrepõe-se à frustração; nas vitórias, a euforia já não é a mesma. Esta apatia não surge do nada, e tenho refletido muito sobre as razões que me levam a sentir assim. O estado atual do clube é, sem dúvida, um fator determinante, mas não é o único. O Benfica aburguesou-se, e esse aburguesamento contagiou os adeptos, sobretudo aqueles que frequentam o nosso estádio com mais regularidade.


O outrora temido "Inferno da Luz" transformou-se num morno "Purgatório da Luz". Hoje, mais do que apoio e motivação à equipa, sente-se o desconforto e a impaciência. O som que mais ecoa não é o cântico apaixonado das bancadas, mas sim os assobios e manifestações de desagrado quando um atleta falha um passe ou quando o guarda-redes temporiza. O ambiente fervoroso de outros tempos diluiu-se, e a nossa casa tornou-se, em muitos momentos, uma mera atração turística.


Tal como Lisboa, uma cidade bela e vibrante que se encheu de visitantes, também o Estádio da Luz se tornou palco de uma experiência recreativa para muitos. Vai-se ao pré-jogo, come-se uma bifana, passeia-se pela loja oficial, assiste-se ao espetáculo de luzes, tiram-se selfies. Durante o jogo, o olhar divide-se entre o relvado e o ecrã do telemóvel, onde se acompanham as reações nas redes sociais. Arrisco-me a dizer que há quem desconheça os nomes da maioria dos jogadores. E quando chega o minuto 85, já satisfeitos com a experiência, muitos abandonam as bancadas apressadamente, para ganhar dez minutos na saída.


Ultimamente, os dedos de uma mão – e talvez até sobrem alguns – são suficientes para contar os verdadeiros momentos de fervor e comunhão benfiquista na Luz ao longo de uma época desportiva. Esta realidade leva-me a estar cada vez menos presente no estádio. A distância geográfica que me separa da Luz, sendo eu do Alentejo, também pesa na decisão, mas mais do que isso, é a ausência de emoção genuína que me afasta. Mesmo no sofá, são poucos os momentos que me fazem levantar de excitação.


Resta-me a esperança de que um dia aquele Benfica que me fez gritar, vibrar e chorar – de alegria e de tristeza – regresse. E que esse dia chegue mais cedo do que o esperado.

1904.

 
 

Comments


⋆ E Pluribus Unum ⋆

MCMIV

bottom of page