Adoro viajar. Aproveito todas as oportunidade para explorar um lugar que ainda não conheço. Por conta desta meu hobby, já entrei em aviões umas quantas vezes. Há algo que é transversal a todas elas: o receio de que algo possa correr mal. Melhor dizendo, a sensação de que não estamos no controlo da situação, mas entregues, de corpo e alma, às funções executivas de alguém.
De há algumas viagens para cá recorri à seguinte fórmula: olhar para quem toma as rédeas da deslocação e assumir como minhas as suas sensações. Onde encontrava medo, passei a encontrar descontração. De inseguro, passei a confiante. De medroso, a valente. De assustado, perturbado e temeroso, a relaxado, bem-disposto e tranquilo. No fundo, passei de ser tudo aquilo que eu era, a ser tudo aquilo que os oficiais de bordo aparentavam ser.
Algo diferente teria ocorrido se, às tantas, um dos empregados de bordo pegasse num paraquedas e abandonasse o voo. Pior: se, antes disso, um beep rompesse o silêncio e uma luzinha vermelha iluminasse o avião - o presságio de que estamos f******. Ainda pior: se, ao longo da viagem, esse mesmo empregado tivesse levado as mãos à cara um par de vezes, "bufado" de desespero outras tantas e apresentado uma expressão ininterrupta de aluno impreparado ao longo da viagem.
A esta hora, Rui Costa grita "bingo": completa na perfeição o quadro acima descrito. Um senhor que, logo que não se aperalte para a entrevista da praxe, representa tudo aquilo que reconheci ao tal empregado. Uma pessoa cuja expressão in-game é não mais do que a imitação rasca daquela que vos descrevi. Alguém que, à semelhança de um oficial de bordo que foge de paraquedas, achou por bem levantar-se e desaparecer de vista aquando do golo do adversário. Uns dizem que não queria enfrentar a ira dos adeptos e que foi embora com o motorista. Outros, que foi ao balneário dar mais uma "surra" à equipa, não tivesse o último murro na mesa dado origem a um tremor de terra. Meto as mãos no fogo: nem uns, nem outros, adeptos como nós, abandonariam a equipa. Rui Costa, o Presidente, fê-lo.
Ao dia de hoje, os beeps são ensurdecedores. As luzinhas vermelhas são mais do que as estrelas. Asfixia-nos a sensação de que realmente estamos f******. De que, mais do que nunca, o avião está a cair. Desta vez, deixo a exigência no bolso: a Rui Costa peço somente que não mais recorra ao paraquedas. Se for para cairmos, que caiamos juntos.
▶ Texto enviado pelo benfiquista Gil Ferreira
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