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Foto do escritorNuno Picado

RDT - flop ou falta de paciência?

O Benfica confirmou hoje à CMVM a transferência de Raul De Tomás para o Espanyol por 20M + 2M em objectivos e 20% de mais-valias em futura transferência.


Antes de mais é preciso dizer que estes números são bastante bons para um jogador que não foi feliz nos 6 meses que esteve no nosso clube, saindo sem glória com 1072 minutos jogados, distribuídos por 17 jogos, e apenas 3 golos. Sejamos honestos: estes números são manifestamente curtos para um jogador que vinha rotulado como craque e nos custou 20M em Agosto.

Mas isto significa que o jogador tem falta de qualidade? Nem por isso. Pudemos ver alguns, poucos, momentos de grande qualidade técnica e inspiração, como o golo na Rússia frente ao Zenit, o pontapé do meio-campo que quase dava um golo digno de um Prémio Puskas em Leipzig e a famosa cueca a Bruno Fernandes na Supertaça. Mas isto foi, de facto, muito pouco.


Então o que levou um jogador com qualidade técnica indiscutível e capacidade goleadora comprovada em Espanha a falhar no Benfica? Na minha opinião, 3 factores:


1 - Erro de casting

É público que o espanhol foi indicado pelo departamento de scouting que nele viu um goleador com grande capacidade técnica e margem de progressão. Infelizmente não era de um jogador com estas características que a equipa precisava nem tão pouco o que o treinador queria. Com a saída de João Félix ficou uma vaga por preencher entre o meio-campo e o ataque, área onde o nosso miúdo se sentia como peixe na água, e Bruno Lage foi forçado a colocar RDT com missões de distribuição, último passe e posicionamento entrelinhas que, diga-se, o espanhol nunca conseguiu cumprir com qualidade. Andou sempre muito longe da baliza e a falta de golos foi pesando ao ponto de nos últimos tempos parecer um jogador banal e sem motivação para jogar futebol.


2 - Falta de garra

O jogador não tem culpa que o clube tenha errado na avaliação das suas características, mas na verdade também nunca demonstrou muita vontade para dar a volta à situação. Mal ou bem, o Benfica acreditou no seu potencial e pagou um valor significativo para o trazer do campeonato espanhol. Infelizmente o ex número 9 nunca pareceu feliz e demonstrou até alguma falta de garra em vários jogos quando as coisas não lhe corriam bem. É pena porque tinha tudo para dar certo e certamente daqui a uns tempos vai olhar para esta aventura em Portugal com alguma tristeza e uma sensação que podia ter feito muito melhor.


3 - Falta de paciência

Com a saída confirmada de RDT, já são 4 os jogadores de qualidade reconhecida que saem do clube pela porta pequena menos de 6 meses após serem contratados: Gabriel Barbosa, Castillo, Ferreyra e Raul De Tomás. Há aqui um padrão e a culpa não pode recair apenas sobre os jogadores. Algo está a falhar, seja no departamento de scouting, que faz uma avaliação errada ou insuficiente das características técnicas e psicológicas dos jogadores; dos treinadores, que não conseguem tirar proveito de investimentos altos (Gabigol jogava a extremo com Rui Vitória e RDT a segundo-avançado com Lage) e também na estrutura que não dá aos jogadores tempo suficiente para se estabelecerem num país e campeonato diferentes, carregando no botão de pânico de forma precoce. Entendo que a perspectiva de uma perda de um investimento de 20M assuste, mas por vezes é preciso ter mais fé nos jogadores e dar-lhes tempo para que possam mostrar o que valem. Já tivemos inúmeros exemplos de jogadores que demoraram algum tempo a justificar o investimento mas que depois se revelaram grandes jogadores: Di Maria, Fábio Coentrão (eu sei, eu sei...), Miguel, Rafa e certamente existirão mais exemplos. É preciso mais paciência e não pensar apenas na vertente financeira.


Então RDT foi um flop ou houve falta de paciência?

Um pouco dos dois, na verdade. Sendo verdade que não deram tempo ao jogador para se adaptar e ganhar confiança, este também não soube aproveitar as oportunidades que teve e nunca mostrou sinais que a situação iria melhorar num futuro próximo. A saída por valores semelhantes aos da aquisição acabam por ser aceitáveis dadas as circunstâncias.


De qualquer modo, espero que mais este falhanço na identificação das características de um jogador sirvam de lição para o futuro e que, ao menos, estes 20M sirvam para financiar a contratação de um atleta para a posição deixada em aberto por João Félix.

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