14 de maio de 1994
Na curva dos meus 18, João Pinto era o que de mais parecido havia com um super-herói. Essa galeria, há época sem as versões Marvel, tinha o super-homem e pouco mais. Ele tinha tudo para ser o novo superman.
Meu vizinho, eu de S. Roque, ele da Corujeira, as noites no Bessa, o “toma lá dá cá” com o Gil y Gil do Atlético e, claro, o craque bicampeão do Mundo.
E foi!
Foi “Aterrador, Empolgante, Sublime”, nota 10!
Do outro lado, nas camisolas com cor e sem cor, Paulo Sousa e Pacheco.
Dois candidatos a super-heróis que resolveram seguir outro caminho. Se do ponto de vista profissional nada tenho a comentar, no patamar dos deuses eles deixaram de ter lugar. O Paulo Sousa tinha até subido a rampa, mas apanhou a saída errada da “BCI” Lisboeta.
E foi por essa altura que eu comecei a desconfiar do meu sensor. Acho que tinha de o afinar.
Na época seguinte com Artur Jorge à frente tínhamos o melhor do Mundo na baliza, S. Michel, Hélder e Mozer, Veloso e Dimas, o Paneira, o Isaías, o João Pinto e Caniggia. Claro que também tínhamos o Nelo e o Tavares e, sabemos agora, tínhamos o Artur Jorge.
O ano seguinte trouxe-nos Valdo e Ricardo Gomes, mas trouxe tantas outras coisas que o meu sensor de “estrelas” estava cada vez menos afinado e o João Pinto era o único que nos iluminava.
Depois veio tanta coisa, de Vigo ao pedido de desculpas, até à saída do meu craque para Alvalade.
O que temia aconteceu.
Isso dos deuses na bola não existe – é apenas um mito urbano.
Aquele miúdo que é como tu, que veste a camisola que querias vestir, que cumpre o teu sonho.
João Pinto com a camisola do Benfica era a prova de que os sonhos eram mesmo possíveis de concretizar.
E agora? Com ele vestido de verde e branco?
Desejei que fosse feliz, que não sendo o meu vermelho a vencer, ele conseguisse tudo o que sempre lhe desejei.
E ele cumpriu – fiquei feliz por ele, mas não por mim.
Vieram o Simão e o Nuno Gomes, passou Aimar e Saviola, Jonas, Cardozo e Darwin.
Passou Gaitan, Salvio, Renato e Ruben.
Tantos, uns bons, outros nem por isso. Uns incríveis, outros mais humanos.
Mas, nunca nenhum me fez sonhar como o João Pinto fazia.
Com ele no tapete verde da velha Catedral eu entrava em campo.
Depois dele eram apenas profissionais que eu adoro enquanto vestem o Manto Sagrado.
Por eles, dou tudo.
Ou melhor, pelo Manto Sagrado dou tudo, independentemente de quem o veste.
Se é o Rafa, o André Almeida ou o Pizzi, o Gilberto, o Gil Dias ou o Meité, não importa.
Creio que podemos e devemos todos começar a exercer esta prática saudável de lidar com os “deuses” da bola, quem sabe até com uma estranha fórmula matemática.
Se é humano, homem ou mulher, mais novo ou mais velho, nos estádios ou nos pavilhões, nas piscinas ou nas pistas. Não importa.
A pergunta é simples: tem o manto sagrado vestido?
É um super-herói, o mais perto que podemos ter de um deus do olimpo. Então, com toda a nossa energia pagã, transformemos essa convicção em força divina e coloquemos em prática a religião BENFICA.
No dia em que tirar o Manto Sagrado, agradecemos de coração a dedicação e vamos em busca de novos deuses, sem ódios nem ressentimentos.
Alguém que vestiu a nossa camisola é alguém que foi capaz de cumprir o sonho que todos tivemos e isso é credor da nossa inveja, do nosso reconhecimento.
Vale para o Jonas que acertou mais vezes na baliza, como valeu para o RDT que acertou menos.
Vale para o Gilberto que se dedica, sem pés, como vale para o Rafa, que com pés, parece que se dedica menos.
A todos, obrigado!
Vamos lá renovar a nossa fé.
Abram alas para os novos deuses.
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