O primeiro passo para o título foi a recuperação da Identidade. O Sport Lisboa e Benfica é um clube desportivo que nasceu para vencer. Por nós e contra ninguém. Assim, ter um Presidente, Rui Costa, que sofre pelo clube (algo normal, diria, mas não que parecia, atentos os últimos 20 anos) e que coloca a palavra “vitória” muito à frente da “doutrina das vendas” é voltar à natureza apaixonante deste clube. Se, além disso, tivermos uma escolha de treinador, Roger Schmidt, com perfil adequado à cultura identitária do Glorioso, temos assegurado o melhor pontapé de saída para um futebol à Benfica!
Não nos podemos esquecer de onde partimos. Três temporadas desastrosas, durante as quais nem perto tivemos de conquistar algum troféu. Foram 4 anos terríveis, dentro e fora do campo, onde até alguns de nós falámos num “segundo Vietname”. Perante rivais com treinadores muito competentes que tinham vencido os últimos campeonatos, era obrigatório construir uma equipa forte para fazermos mais de 85 pontos. É assim o Campeonato português. A diferença dos 4 primeiros para a concorrência é enorme. E assim foi. Era necessário voltar a ter um bom lateral-direito depois de Nélson Semedo e apareceu Alexander Bah. Era obrigatório ter um “8” de qualidade mundial para ser o motor da equipa e chegou Enzo Fernández. Era fundamental ter um ala desequilibrador e forte na tomada de decisão e contratámos Neres. E ainda fomos premiados pelo “joker” Fred. Poucos o conheciam, mas rapidamente percebemos a sua importância, a vários níveis, em toda a dinâmica coletiva. Não me esqueço de Musa, que passou de desajeitado a muito útil, com um excelente rácio entre golos e minutos. Roger ainda recuperou o “polvo” Tino, essencial para a sua forma de jogar, e viu desde cedo em António Silva um potencial defesa-central de nível top mundial.
O segundo passo pode reconduzir-se ao substantivo Compromisso. E vem logo à cabeça o MVP da época: Grimaldo. “Odiado” por atitudes extracampo e hoje elogiado por todos, na sequência de uma temporada de grande nível, sendo, mesmo, considerado, na sua despedida, um dos melhores laterais-esquerdos da história centenária do clube. Craque! Outro nome que não podemos olvidar é o de João Mário. Dado como “vendável” em julho, terminou a época 2022/23 com um dos líderes do balneário, fazendo a melhor época da sua carreira futebolística. Foi a cabeça de Roger no relvado. E Rafa? Recuperou a alegria de jogar e ficou associado a vários dos grandes momentos do ano vermelho e branco. O lado humano de Roger Schmidt foi fundamental para a conquista do 38.º título nacional.
Com um plantel bem construído, o SL Benfica mostrou, desde a pré-época, o futebol que íamos ver ao longo de toda a temporada. Sem olhar muito para a qualidade do adversário, constatámos uma ideia de iniciativa com bola e muita pressão sem ela, imagem de marca das equipas lideradas pelo técnico alemão. Muitos jogadores a surgirem por dentro, de modo a libertarem os corredores para os laterais. E, claro, procura constante pela baliza adversária. Roger Schmidt valorizou mais o modelo do que a estratégia. Até porque a estratégia ganha jogos, mas um modelo de qualidade, aplicado por bons jogadores, está mais perto de vencer campeonatos. Jogámos sempre da mesma maneira, como bem disse Rúben Amorim. O SL Benfica voltou!
O terceiro e último passo – muito importante para o futuro! – foi a Personalidade demonstrada em qualquer relvado. Infelizmente recordo poucos jogos europeus onde tenha visto o meu SL Benfica jogar olhos nos olhos diante de outros gigantes do velho continente. Mas esta época tive o gosto de o ver à saciedade ao longo da melhor prestação europeia do meu clube nos últimos 30 anos. Não foi apenas pelos resultados, pois já chegámos, algumas vezes, aos quartos-de-final da Liga dos Campeões e até finais da Liga Europa. Foi sobretudo pela qualidade de jogo que vi em Turim e Paris, pela “fome de golos” em Israel para vencermos o grupo. Foi, ainda, pela demonstração de força dos 7-1 ao Club Brugge em 180 minutos. E até mesmo na eliminação em Milão, o empate conseguido já nos descontos foi muito importante, a nível psicológico, para a reta final da temporada. Foi um prazer incrível sentir que o meu SL Benfica pode realmente bater-se com qualquer equipa do Mundo. E com o Enzo na equipa até ao final da temporada, não sei não… Esta foi a maior conquista que Roger me deu!
Resultado de tudo o que antecede: “E o Benfica é Campeão!”. A melhor equipa portuguesa na época 2022-2023 venceu, de forma muito merecida, o seu 38.º campeonato da sua história. O melhor ataque, a melhor defesa, a equipa com melhor dinâmica a nível ofensivo, o coletivo que melhor impediu que a bola (pouco) chegasse à sua baliza. Em suma, a equipa que jogou melhor futebol em Portugal. Era justo ter ganho com mais pontos de avanço sobre um FC Porto que invejo na mentalidade competitiva, mas que este ano esteve uns furos bem abaixo do seu grande rival.
Fica para o fim uma referência ao mais importante de toda esta caminhada. O povo do Benfica! Foram quase 60 mil de média de assistências na Luz. Cada estádio dos adversários que visitávamos enchiam de forma brutal, com um apoio de uma massa humana sem igual neste nosso Portugal. Da minha parte fiz praticamente todo o “38” atrás do Benfica. Sempre ao lado da mulher da minha vida (Obrigado por tudo), com Amigos e “Irmãos” nortenhos – e não só –que me deixam o coração cheio a cada partida. E, claro, o Benfica Independente que me ajudou a “Benficar” antes e depois dos jogos. Antevisões e rescaldos com análises sobre os adversários e os encontros, sempre pela positiva e em prol do Futebol. Muito Obrigado. Sou uma pessoa mais feliz com gente como vocês! São o melhor que o Benfica me deu!
A próxima época começa com um jogo DECISIVO: a Supertaça. É fundamental para o resto do ano desportivo. Nunca esquecer aquele jogo em 2010 e o quão importante foi no desenrolar do resto da temporada. O Benfica perdeu Enzo e Grimaldo e talvez possa perder Otamendi e Gonçalo Ramos. Mais uma vez, o mercado de Verão terá de ser de grande qualidade para termos bases sólidas em busca do Bicampeonato, da Supertaça, da Taça da Liga e da Taça de Portugal, além, claro, de mais uma excelente prestação na Europa. É para ganhar TUDO, a nível nacional.
Rumo ao 39!
Ao Benfica o que é do Benfica!
1904!
PS: Não consigo terminar este desabafo sem falar da festa de campeão. No estádio foi bonita. Na saída da Catedral viu-se o inferno vermelho e branco. Mas e o resto? A repressão policial, um fraco speaker que não tem competência para cumprir a função e um Marquês que é uma discoteca a céu aberto. Triste! Em 2010 e 2014 vi a equipa do Benfica a ir à festa do seu povo. Depois disso, é o povo fazer de figurante numa festa organizada pela empresa Benfica. Pensem bem nisto…
▶ Texto enviado pelo benfiquista João Nuno Costa.
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