Até Tunja, uma cidade perdida no meio dos Andes, é maior do que Taiúva. Tudo é maior do que Taiúva e, contudo, naquela longa viagem de regresso, ele só queria que o destino fosse Taiúva. A noite já ia alta, todos os outros dormiam à sua volta mas ele não conseguia. Talvez tudo fosse um erro. Talvez estivesse na hora de deixar de jogar. Tinha sido um sonho bonito que acabara numa noite de pesadelo. Só isso. Ligou aos pais. Não atenderam. O pai iria compreendê-lo. O pai nunca quis que ele jogasse. O pai nunca o deixaria falhar aquela primeira bola isolado. O pai nunca deixaria que ele atirasse aquela segunda bola ao poste. O pai nunca deixaria que ele falhasse a última emenda. O pai nunca deixaria que ele se tornasse no «pior atacante do mundo». O pai devia estar de braços abertos para recebê-lo quando foi substituído ao minuto 83. O pai devia ter um casaco na mão, abraçá-lo, e dizer: deixa estar, miúdo. Vamos voltar para casa, Taiúva é já aqui ao lado. E no carro velho do pai iriam cruzar toda a América do Sul, e ele seria novamente um moleque que brinca com a bola e falha. Todos falham por vezes. Mas não é grave, é só um jogo de bola. Taiúva é uma pequena terra, tão pequena que nem tem um restaurante aberto todas as noites da semana. Taiúva não tem cinema, nem tem internet em condições para ver os filmes de que falam na televisão. Taiúva é um porto de abrigo, é uma baliza sem guarda-redes onde o golo é sempre fácil. Obrigado por teres descoberto uma segunda Taiúva no Benfica. Obrigado, Jonas.
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MCMIV
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