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Foto do escritorJoão Tibério

Sport Mirabal e Benfica

"Quando o Benfica perde é sabido que a mulher apanha." Os anos passam e a piada repete-se, esta graça (de muito mau gosto) é, infelizmente, demasiado democrática, não olhando a estratos sociais, raça, idades ou género. Brinca-se com uma coisa séria, demasiado séria. São 500 mulheres nos últimos 15 anos. 28 só este ano. Na maior parte dos casos, a violência doméstica é antiga, recorrente, e não um caso isolado. Os dados da APAV mostram que a maioria das vítimas são mulheres (85,2%), que 42% dessas tinham entre 26 e 55 anos, e que os crimes ocorrem em casa. A análise à violência doméstica contra as mulheres mostra que há vítimas de todas as condições, estratos sociais e económicos. A violência que não é apenas física, mas também psicológica, sexual, financeira, não pode de forma alguma ser tolerada. Estamos a falar de um crime público. Todos podem e devem fazer algo.


A tua avó, aquela que tu sempre adoraste, deve ter sofrido de algum tipo de abuso no passado. A tua mãe, que tanto admiras, deve ter reagido mais do que uma vez a algum tipo de abuso do seu pai, marido ou tio. A tua irmã, com quem tanto refilas mas que está sempre lá para ti, já pode ter sido humilhada ou perseguida por um ex-namorado. A tua filha, a pessoa mais importante da tua vida, irá um dia sofrer algum tipo de violência. Não estamos a falar de números ou a pensar em perfeitos desconhecidos, as vítimas de violência doméstica têm caras e, provavelmente, tu conheces algumas delas. Estamos a falar de um crime público. Todos podem e devem fazer algo.


Neste mundo de polémicas fast food e discussões cada vez mais extremadas, gasta-se demasiada energia nas coisas erradas. Sim, o Benfica é destino de camiões de jogadores. Sim, o Benfica confunde-se demasiadas vezes com empresários que insistem em juntar negócios nebulosos e futebol na mesma frase. Sim, o Benfica é mais do que futebol e, sim, o futebol é mais do que um jogo. Hoje é 25 de novembro de 2019, Dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra as Mulheres, e é fundamental perceber que a violência doméstica é um crime público, que todos podem e devem fazer algo. E, por isso, peço que a partir de hoje a discussão dos benfiquistas não seja apenas sobre os camiões de jogadores que todos os anos assinam pelo Benfica, mas seja também sobre os camiões de mulheres que morrem vítimas de violência doméstica, todos os anos, em Portugal. Travar esta batalha também é fazer Benfica.


Obs: Procurem a história das irmãs Mirabal, vale a pena.

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