Tem-se tornado habitual. Um homem vem, brilha, perde o brilho e vai-se embora. Vem outro, torna a brilhar, desaprende e arranca. Não morre o “desta vez é que vai ser”, mas começa a ganhar vida o receio de que a cassete esteja estragada. A verdade, caro leitor, é que a equipa perde o rumo, o treinador fica desorientado, mas a culpa nunca parece ser de quem fica.
É graças a Bruno Lage que os benfiquistas podem sonhar com algo mais do que uns joguinhos de fim de semana, umas jolas e um ou outro sorriso em 2024/25. É desde o seu regresso que celebrar títulos voltou a ser assunto nos vários fóruns do Clube. E não foi preciso nenhuma revolução, terraplanagem ou sangria desatada. Em menos de um mês, com os mesmos jogadores e direção e com pouquíssimas unidades de treino, Lage meteu-nos a ganhar. Hoje por hoje, quem visita o Estádio da Luz já não encontra um lugar engolido por suspiros e por lenços brancos. Nem dá de caras com uma avalanche de adeptos dominados pela raiva acumulada de meses a fio sem um motivo para festejar. Reforço: não foi preciso mudar grande coisa para que tudo mudasse. Mas conheço o filme — e talvez seja por isso que não consigo aproveitar este momento de glória na sua plenitude.
Rui Costa, uma opção de continuidade face à década e meia anteriores, tornou-se presidente com uma aura quase divina. Oito em cada dez benfiquistas votantes viram na sua figura o homem que mais recursos tinha para conduzir o Maior ao sucesso. Mas, sejamos sinceros, Rui Costa sofre os males de não saber que ser presidente é mais do que ter uma cara bonita, vestir um fatinho de marca e conjugar uns verbos corretamente. A gestão desportiva do clube tem sido uma miséria. Os jogadores entram e saem, entram e saem, entram e saem. Os treinadores não duram mais de duas épocas. Os membros da direção têm saltado que nem pipocas - paira a ideia de que nem eles, entre eles, se entendem. Sim, é mais fácil dizer que o treinador é o culpado pela desorganização, pela má gestão e pela falta de produtividade, gastar uma nota preta na rescisão de contrato e mandá-lo embora. E uma vez, ok, um gajo até acredita. À segunda, mais ou menos. Em Bruno Lage, Jorge Jesus e Roger Schmidt, meus caros, já vão três.
A “chama imensa” nunca se apagou. Mas tem levado com vento forte a cada dois anos. É verdade que torna a reacender quando vem a esperança de que algo mudou, mas sofre depois novamente os danos de uma ventania - e assim tem sido a nossa vida, um loop vertiginoso. Bruno Lage, com ideias frescas, vem encarnando a figura do benfiquismo que pouco ou nada se via antes da sua chegada. E tem agora a oportunidade de provar que nunca foi o problema. Mas este momento deve também servir para olharmos para o presente com a vacina do passado.
Vivemos uma boa fase. De união, de força, de ânimo e de crença. Mas virá ainda uma fase má: de sofrimento, de custo e de muita dificuldade. Quando chegar o dia D, que não nos viremos para Bruno Lage — ou a culpa é sempre dos treinadores?
▶ Texto enviado pelo benfiquista Gil Lourenço Ferreira
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como é óbvio a culpa maior não tem sido dos treinadores, também não viu quem optou por não querer ver.
para alem dos erros evidentes de quem dirige mesmo que não existissem, e existem e muito, a culpa em ultimo caso é de quem lidera porque é ela que escolhe os treinadores.
mas também existe muita culpa dos treinadores por muitos e graves erros que tem cometido, de todos os tres a que podemos somar ai o rui vitoria, e para alem disso pelos vistos as pessoas ainda não perceberam que um treinador tem um prazo de validade, mesmo tendo qualidade, que não deve ultrapassar os tres anos.
mas este e aquele estão neste ou naquele clube há não sei…