Escrevo este texto não devido à atual crise desportiva em que se encontra clube (sim é um clube desportivo!), mas por algo que tenho sentido ao longo dos últimos largos anos. Uma crise bem maior: a crise dos valores que aprendi a amar e identificar na paixão da minha vida chamada Sport Lisboa e Benfica. Pior que perdemos muitos jogos é ver, de há vários anos a esta parte, o nosso Benfica a perder identidade, mística, espírito de conquista e postura de equipa grande. Em suma, Benfiquismo puro e duro.
Nas conversas com os meus amigos “doentes” pelo Glorioso surge sempre aquela questão de como e porque somos do Melhor Clube do Mundo. O que nos identificou neste clube que nos leva a pensar em tudo o que é Benfica semana após semana, dia após dia, minuto após minuto.
A dimensão planetária do Benfica é algo pelo qual cedo me apaixonei. Ir a qualquer terra de Portugal e sentir o Benfiquismo e, principalmente, visitar qualquer país no Mundo e saber que em qualquer canto posso encontrar um Benfiquista sempre pronto a mostrar a sua paixão encarnada. Imagens de um Tour com o Manto Sagrado. Um treino na Suíça com 10000 adeptos. É orgulho! E isso deve-se a quê? Ao respeito que o SL Benfica conquistou na Europa e no Mundo com aquela fabulosa década de 60 liderada pelo King - e não só -, mas também pelos feitos que fomos tendo em 70 e até final da década de 80. Como é hoje visto o Benfica na Europa? Cada vez mais pequenino e até muitas vezes motivo do gozo devido à fraca ambição demonstrada época após época. Os jovens como eu tendem a perder o brilho de jogar nos maiores campos da Europa, de erguer bem alto a nossa bandeira e disputar a partida taco a taco com as melhores equipas do mundo. É muito triste. Aquela noite antes da maldita final da Liga Europa contra, na altura, o campeão da europa Chelsea é dos momentos mágicos da minha vida. Aquela alegria dos Benfiquistas numa final europeia não tem preço. Aquilo é vida. É aquilo que temos vindo a perder. Onde anda a dimensão mundial do Glorioso?
E onde está o espírito sofredor do povo do Benfica? Aprendi com familiares e amigos que partilham a doença que o nosso Benfica é aquela religião sempre presente no nosso coração. Temos que fazer tudo por ela. Seja ajudar a construir um estádio, seja a gritar um Viva ao Benfica quando estamos mesmo no fundo ou até mesmo sacrificar a família porque temos de estar presentes numa Assembleia Geral pois o futuro do Benfica passa por nós. Por incrível que pareça, sentia mais Benfiquismo, mais dedicação e mais espírito de luta pelo nosso ideal no nosso Vietname do que hoje em dia. Bem sei que a sociedade mudou e muita coisa se alterou mas – porra! - é o nosso Benfica que está em jogo. Aquilo que nos faz rir, chorar, acordar bem ou mal dispostos. O nosso avô, pai ou filho. O nosso amor. Falta muito Benfica ao Benfica.
Cresci com as minhas influências a explicarem que o SL Benfica já era democrático na ditadura e que era nas Assembleias Gerais, “tascas”, cafés e em qualquer local onde havia Benfiquistas a debater que o clube ficava melhor. A troca de ideias era o melhor Marketing do clube. Hoje assistimos a uma empresa com estatutos ditatoriais (culpa dos sócios), que tem o culto doentio ao líder como seu desígnio, a dizer “à boca cheia” que, agora sim, temos o foco na questão desportiva. Mas o que é isto? Agora um clube como o meu Benfica precisa de apregoar que o seu objectivo é desportivo? Isto revolta-me. Deixa-me louco! É o Benfica a “morrer”. Não podemos permitir isto. Uma derrota no Benfica é um desespero, seja contra quem for. No Benfica, ser Campeão tem que ser natural. No Benfica é para Ganhar sempre. Acabemos com pensamentos que me deixam triste, como o “não se pode ganhar sempre”. A cor da nossa camisola é vermelha, não é verde. Chega disto!
E como já me vou alongado nesta dissertação fica para o fim o mais fundamental de todos os valores: a credibilidade. E não falo na financeira, falo da honra. Escrevo isto magoado com tudo o que se vem escrevendo e lendo nos últimos tempos. Eu sou um Benfiquista do Norte, com muito orgulho, que cresci com um inimigo que se orgulha de dizer “que vale tudo para ganhar aos mouros pois no passado também fomos roubados”. Eu odeio isso. É um nojo. Por isso quando vejo o nosso Benfica a ser falado por processos judiciais dia após dia fico com vergonha, fico a pensar onde está o Benfica que amo? A mancha está lá, pese embora - como eu espero - a pessoa que nos preside há 17 anos seja absolvida de todos estes casos. A credibilidade não se apregoa, pratica-se!
Resumindo, hoje em dia vejo um Benfica com valores à Porto. O nosso Benfica está descaracterizado da sua essência: Onde está o ambiente popular? Onde está a sua história? Onde está o clube? Mesmo sabendo que o negócio e a venda de jogadores fazem parte do futebol contemporâneo, o discurso mercantilista é um atentado à história desportiva e gloriosa do Sport Lisboa e Benfica. Para onde caminhas, Glorioso?
Isto foi escrito por um Benfiquista do Norte que é do Benfica não por resultados, pois cresceu no Vietname, mas antes por uma coisa que é muito complicada de explicar, porém muito bonita de se sentir: a chamada MÍSTICA do Benfica!
Covid, por favor, vai embora para voltar a ter aqueles almoços, aqueles dias à Benfica com grandes amigos que fiz para a vida devido a esta paixão que, infelizmente, é o que resta do Benfica pelo qual me apaixonei. E Pluribus Unum. 1904!
▶ Texto enviado pelo benfiquista João Nuno.
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