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É isto que gostamos de lhe chamar, não é?



O leitor já terá ouvido falar no "teste do algodão". Para aqueles a quem esta designação nada diz, podemos resumi-la nos seguintes termos: um método simples e eficaz que, quando aplicado em momentos decisivos ou críticos, conduz a uma clarificação. Através deste exercício pode ser apurada a autenticidade de algo ou de alguém. 


Um exemplo pode ajudar. Peço ao leitor que recue ao final de 2020. Muito provavelmente, encontrava-se numa sala, num quarto ou numa cozinha - o confinamento não lhe permitia mais do que um passeio por estas divisões. Nessa altura, mais ou menos quando foram administradas as primeiras vacinas que vinham combater a Covid-19, pôde ver muitos dos seus concidadãos a duvidarem da honestidade e da fidelidade da medicina, fazendo acompanhar esta desconfiança das sempre criativas teorias da conspiração. O "teste do algodão" aplicado a esta situação permite-nos distinguir os credores da medicina e do trabalho de investigação levado a cabo pelos seus profissionais, daqueles que preferem ocupar-se com devaneios sobre uma entidade semi-mítica que tem como principal objetivo o mal-estar da população. De outra forma, não saberíamos quem são uns e quem são outros. Não se separava o trigo do joio, quando o trigo e o joio nada têm a ver. 


O nosso Benfica pode ser alvo deste exercício. Não foi há muitos dias: Sérgio Conceição, que inúmeras vezes e sem qualquer melindre se mostrou anti-benfiquista, foi fortemente associado ao lugar de treinador do Benfica. Vejam só: foi justamente num anti-benfiquista que muitos benfiquistas viram a pessoa mais indicada para... tirar o Benfica do buraco. Mais: alguns deles, sabe Deus, até têm como toque de telemóvel o cantarolar do discurso de Mário Wilson sobre os valores do Clube - quanta hipocrisia. Fiquem descansados: já estão disponíveis os resultados do "teste do algodão" sobre a aproximação de Sérgio Conceição. Agora, sabemos quem são os benfiquistas que prezam os valores, a ética e os costumes do Clube; e quem são os benfiquistas que preferem vender a alma ao diabo, fiando-se nas hipotéticas vitórias que a figura de Conceição os faz imaginar e descurando tudo o resto. A má notícia é que não sei para que lado tomba a balança - e prefiro continuar ignorante. 


No final do dia, ainda que Lage seja dado como certo como sucessor de Schmidt, não foram poucos os benfiquistas que aplaudiram a hipótese “Conceição”. Por isso, não vão embora daqui sem uma última dose de realidade: a crise do Benfica não se fica pelos relvados. Nem tampouco pela (falta de) orientação dos que vêm ocupando as poltronas diretivas. A crise do Benfica é de alto a baixo e esbardalha-se sobretudo quando dá de caras com as máximas que deviam reger esta grande instituição. Diga-se, a maior instituição do país - é isto que gostamos de lhe chamar, não é?


▶ Texto enviado pelo benfiquista Gil Ferreira


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NOTA: A opinião aqui transmitida é da inteira responsabilidade do seu autor e não representa, necessariamente, a opinião do Benfica Independente.

1 comentário

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1 Comment


drmgomes
Sep 04

Excelente análise! Certeira e aguda.

Os clubes (também) se distinguem pelo patamar dos seus valores e da sua ética própria (ainda para mais se estiver em causa um clube centenário e que reúne milhões de adeptos e apoiantes). São esses os pilares da sua identidade e da sua diferenciação. Se traímos os nossos valores (seja por que razão for), pouco resta para nós afirmarmos. É assim nos diferentes quadrantes da sociedade. É assim no desporto. É assim que se formam pessoas, identidades e instituições.

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